Vem, traz-me lembrança de mundo perdido
atrás das acácias, berço de panteras
antílopes loiros cavalgam o espaço
olfacto sentindo o cheiro das feras.
Vermelho se estende sempre mais além
o poente agreste de nossos sentidos
rasteja a savana nos tufos que tem
ardentes ao sol, todos ressequidos.
Estirado o leão a juba levanta
corre uma leoa atrás da pacaça
salta sobre a presa, prende-lhe a garganta
um bando oportuno, a espreitar esvoaça.
O urro distante de algum elefante
encheu de silêncio o tempo bravio
as fêmeas, as crias, no chão calcinante
levantam as trombas no seu desafio.
As aves canoras de plumas brilhantes
ferem o azul em traço garrido
enquanto macacos em árvores distantes
saltitam e fazem ouvir seus grunhidos.
A selva, animal que vive d’instinto
ancestrais costumes faz reproduzir
mas o ser humano (esse labirinto)
os seus próprios actos sabendo medir
podia ao jardim, o éden da Paz
levantar do tempo, não mais ser quem foi
esquecendo o impulso soberbo voraz
parar, recusar tudo o que nos dói.
Deixemos à selva animal sem escolha.
Mas nós, seres humanos feitos pró amor
dispamos a dor, como quem desfolha
o tempo do sonho, cada vez maior.
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