Caro Companheiro de Abril, meu Capitão
Dirijo-me a si, em continuidade da resposta ao post Ser Humano, mas se é a si que me dirijo, não é a si que me refiro, porque você meu caro, é um homem bom e sensível com quem sempre se poderá falar (mesmo se por vezes arma em torto).
Vamos ao assunto:
Não defendo uma posição, que se defende muito bem por si própria, caro amigo, clarifico a minha postura perante o seu termo de feminismo, já que há vários tipos de feminismo, no meu, opto por condenar o machismo de hoje, numa época em que homem e mulher deveriam ser companheiros em luta por um mundo melhor e fraterno, porque enquanto o pesadelo, for o pão de cada dia de uns, quer sejam mulheres ou não, ninguém pense o mundo de beleza e Paz, possível, o chefe índio Seattle, frisou-o ao bem na carta que escreveu ao presidente dos USA, tudo está ligado! e hoje como ontem: tudo! Homens e Natureza! e, diga-me parece-lhe possível o riso enquanto outros de desespero (evitável) choram, morrem, sofrem, são mortos e assassinados, têm fome, e , horror, morrem sem água? morrem-nos e matam-nos a nós mesmos em cada irmão ultrajado, humilhado, assassinado, preso, torturado, esquecido! o que nada de humano justifica, mas, a reforçar o horror, quantas vezes a violência sobre a Mulher é cometida perto de nós, à nossa frente, violência que confortavelmente nos negamos a ver? mulheres violentadas, violadas, mulher-presa, desde a infância, vítima da evidente diferença muscular, que confere ao homem maior força física ( e quem a nega? acho que essa ninguém)! por isso me bato ao lado dos que choram e das que choram, ou dos que o denunciam, convicta e com afinco, é que veja bem, não me contento em bater-me por conquistar um Mundo de Direitos e Deveres (claro os deveres fazem parte do civismo) , mas vejo para além dessa cortina de sofrimento, uma alegria de viver a conquistar e creia porque nela não há excluídos, merece-me todos os esforços, é pois pelo colorido dessa vida em que creio que me bato, porque por isso nos trouxeram ao Mundo, onde fraternos e justos para com todos e entre todos, possamos evoluir, confiantes, entusiastas, responsáveis e amigos.
Mas hoje enquanto sofrem outros povos, enquanto sofre quem trabalha, enquanto sofrem crianças, jovens, idosos (nos quais começo a incluir-me), enquanto sofrem Mulheres, porque homens, continuam a agir e a falar, servindo-se da força física como argumento, ou menos falado, mas tão nefasto como a primeira, da força económica (que pesa tanto negativamente dentro duma casa de família, como num país, ou no mundo).
Toda a forma de dominação, seja qual for o pretexto e sobre seja qual for o ser humano, ou sobre a colectividade é injusta e porque contrária à humanidade deve ser combatida, e penso-o sinceramente, é nefasta mesmo ao dominador, porque o distancia de si mesmo, afastando-o do profundo humano que deveria ser o seu. Por isso, todos aqueles que duma forma ou de outra têm nas mãos, instrumentos de comunicação, deveriam pesar as consequências de cada palavra, antes de as proferir ou escrever, nada do que se diz é sem consequências,e se alguma inteligência nos habita,
( meu caro Companheiro, este pedacinho não é para si,a sua sensibilidade sem limite, responde antes de mais, pela sua actuação), devíamos ter em linha de conta que temos obrigação de utilidade na Terra e que essa obrigação é para connosco, de deixar um dia ao partir, a marca indelével, mesmo se invisível, da nossa passagem pela vida, até porque essa é a única maneira de não morrermos completamente, deixar a vida (não o podemos evitar) mas tendo a nosso nível contribuído, para um sopro mais no avanço da VIDA e da HUMANIDADE e então no momento da partida, levar connosco uma infinita saudade, da beleza, da luz, do amor de todo o tipo, do respeito, mas partir serenamente, na certeza de pelo menos, nunca ter sido nocivo nem à vida, nem à conquista do direito à alegria de viver de todos e de cada um! Mas para que tal seja, hoje diante da aflição em que se vive, a palavra é combate e Luta, ou a nossa lucidez estaria seriamente comprometida
Quem me dera, que o Mundo fosse o que ainda não é: também na minha poesia essa realidade estaria reflectida e poderia escrever alegria e beleza sem cansaço! assim, sendo as coisas o que são, e como essa preocupação existe concreta no meu mundo interior, claro, condiciona quanto sou e faço e por conseguinte o que escrevo, mesmo se por momentos fujo para recuperar forças para o que a natureza ou o ser humano fizeram de belo e de grande! é mesmo uma necessidade, se nunca recuperamos dos dissabores, falta o indispensável para que qualquer Luta possa ser eficaz, a força e a convicção.
Semear desespero sem saída, não me parece a forma mais eficaz de incentivar os ânimos para a Luta pela Dignidade e por um um Mundo melhor, mas para semear Esperança é preciso acreditar nela e para acreditar é preciso estar forte, por isso defendo quem sofre, porque o fim de cada sofrimento é uma porta que se abre para a alegria e para a Esperança, logo para uma continuidade de conquistas e de aperfeiçoamento, tanto próprio como colectivo, simplesmente porque somos seres humanos e que nascemos com essa "coisa extraordinária" que se chama Consciência!
o meu abraço
Marília Gonçalves