
O mês de Novembro aproxima-se. De que ano? Querem que diga? Ora digo sim senhor, não havia de dizer porquê, a data não tem nada a esconder, não anda vestida de mentirolas, o que nem todos podem dizer, a data assume-se muito bem a ela própria, com todos os anos que tem, mas se calhar é normal já teve tempo para aprender, nós é que estamos sempre condicionados pela falta de tempo, a data até já é feita de tempo, por isso não pode fugir de si própria , que a fugir de nós próprios, andamos todos os dias, a inventarmo-nos como não somos, ou porque gostaríamos de o ser, ou por ser o que outros esperam de nós, o que sempre esmorece uma pessoa, coitada, é muito triste não podermos ser quem somos, o que faz de nós assim umas coisas a parecerem-se com coisa nenhuma, mas voltando ao ano, sempre digo que é o de tomar novas resoluções, de olhar o caminho percorrido, pois parece este nosso andar muito negativo, a menos que dele sempre se vá tirando algum ensinamento que é também tudo o que se lhe pode tirar, tão escasso anda, lembra quase o vácuo a perturbar-nos o sistema humano de tal maneira, que quase nos esquecemos que somos humanos mesmo, ou não seremos, e temos apenas este aspecto vertical, só para podermos andar à chuva, sem nos molharmos tanto, como os que andam por vontade da natureza, de quatro apoios fincados no solo, talvez quem sabe, por nós andarmos pouco apoiados é que nos desequilibramos tanto, mas nisso não temos culpa nenhuma, que nos não pediram a opinião para nada, quando cá chegámos era assim e pronto, aprendemos a governar-nos, ou a desgovernar-nos, que mais faz pensar em desgoverno, este não saber bem ao que andamos, que até quem se anda a ressentir, são os jovens, que nem sabem ao que se hão-de agarrar, entretidos como nós andámos, a destruir tudo aquilo em que podiam acreditar, o importante mais uma vez foi salvar o porta moedas, mas a continuar assim, por aqui ficará ele, mas sem ninguém que o segure, parece afinal que o destino de tantos milénios de provações da humanidade, foi apenas para preservar a espécie dos porta- moedas, que a espécie que é a nossa, só se soube especializar, em tal e qual, o que seja dito em abono da verdade, se não fizesse chorar até dava vontade de rir, mas assim sendo, seria bom, se pudéssemos pensar mais umas pinguinhas, que anda a fazer falta, como a chuva no nordeste do Brasil e na África, que se sempre se pensasse mais, até isso podia ser solucionado, não era preciso incomodar Jesus, era só chamar os especialistas que sabem tão bem encanar o petróleo por baixo dos oceanos e mares, por esse andar, também podiam encanar os excessos de água de alguns lados para os outros onde faz falta, mas como há desemprego deve ser por isso , não têm gente suficiente para trabalhar e ficam à espera que chova, como chovia naquele dia, às portas do mercado de Faro, quando a Caia se abrigou rente às paredes, a ver se acabava o aguaceiro e impaciente exclamou: que seca, o que deu muita vontade de rir aos outros todos encharcadinhos que por lá se achavam ao mesmo, à mesma se diria pois temos que reconhecer que não passamos da cepa torta, não que faltem as cepas por esse mundo fora, é ver a variedade de vinhos que por aí há e de quem os beba e não ficam dúvidas nenhumas sobre o frutificar da prole de Baco, que já vem de longe o hábito e o costume, tanto andou, andou, para vir aterrar aqui, a encontrar-nos aterrados a nós, que lá em angústias não somos escassos, falta-nos é reflexão e reflexo, que é assim como quem diz um espelho de nós idos e vindos com a nossa história a doer nos dias alegres, pois a alegria sempre foi coisa procurada por rara se autêntica, e assim nos vamos iludindo sem a conhecermos bem, pior seria se não ríssemos nunca, a rir também se vai vivendo, há quem diga que o riso vale um bife, os tristes que hoje, mundo fora, vão morrendo à fome, não devem ter nunca ouvido isto, senão, sim agora, aqui é que a porca torce o rabo, principalmente quando não há porca nenhuma e lá fica um pobre a chuchar no dedo, que me está até a lembrar a D. Maria, ela bem sabe porquê, eu menos mal, muito obrigada, que a delicadeza não faz mal a ninguém, embora vá estando bastante fora de moda, mas nisto de modas só as segue quem quer, ou pode, não é preocupação minha vital, que para um vestido ser bonito ou feio, pouco se lhe dá quem o mandou ser como era , nem o dia em que deram o dito por não dito.
Marília Gonçalves