Je suis humble artisan d’une tâche inféconde
mais devant les dangers qui menacent le monde
je rougirais
d’être de ceux qui n’ont rien dit.
Eugène Bizot
1° Prémio de Poesia
(Dr Ilda Regalado)
O Relógio da Torre
Para quê saber o fundo da angústia
este uivo vendaval que cedo surpreende
para quê conhecer a hora da argúcia
quando voam gaivotas sobre corpo de sede.
Remoinhos nos olhos levantam pensamentos
onde folhas de Outono poisaram tristemente
o cofre das lembranças e o de sentimentos
deixam voar saudades a desfazer-se sempre.
Só uma badalada no pêndulo da torre
por uma hora magra, breve que nos resta
enquanto sobre nós cada dia que morre
na espessura da noite vai cobrir a floresta.
O cantar de sereia vem do tempo de Ulisses
ou navio que se afasta na estridência do cais
a navegar a bruma duma ilha de Circe
no rouco som que parte para não voltar mais.
O perfume de Agosto sobe do fim do tempo
com risos a cantar e manhãs a nascer
mas são vozes do cofre, que estão em movimento
ou retratos antigos a chegar pra nos ver.
Tudo quanto nos cerca tem o tom conhecido
da constante paisagem do que somos na vida
como oferenda eterna do eco pressentido
no timbre cor de mel que nos serena ainda.
Minutos de surpresa e continua a espera
vertigem de viagem no encontro dos dias
mesmo se o mês de Outubro nos cheira a Primavera
vão pairando no ar as velhas sinfonias.
A mão que nos segura, vacilando fraqueja
o tempo tem limite, tem portas e fronteiras
o instante sereno que nosso alento beija
vai desfolhar a flor de nossas sementeiras.
Somos ainda sol amarelo de Verão
uma praia aquecida no acaso da tarde
uma palavra solta na voz duma canção
uma fímbria de luz na breve imensidade.
Uma certeza só, perdida, inviolável
que nada trairá nem poderá vencer
o encontro perene de olhar inevitável
vestido de distância, mas que nos faz doer.
O solitário apito, um chamamento apenas
acena-nos de leve a esperada viagem
e nossas pobres forças, humanas, tão pequenas
vão subir o degrau da última coragem.
Marilia Gonçalves
mais devant les dangers qui menacent le monde
je rougirais
d’être de ceux qui n’ont rien dit.
Eugène Bizot
1° Prémio de Poesia
(Dr Ilda Regalado)
O Relógio da Torre
Para quê saber o fundo da angústia
este uivo vendaval que cedo surpreende
para quê conhecer a hora da argúcia
quando voam gaivotas sobre corpo de sede.
Remoinhos nos olhos levantam pensamentos
onde folhas de Outono poisaram tristemente
o cofre das lembranças e o de sentimentos
deixam voar saudades a desfazer-se sempre.
Só uma badalada no pêndulo da torre
por uma hora magra, breve que nos resta
enquanto sobre nós cada dia que morre
na espessura da noite vai cobrir a floresta.
O cantar de sereia vem do tempo de Ulisses
ou navio que se afasta na estridência do cais
a navegar a bruma duma ilha de Circe
no rouco som que parte para não voltar mais.
O perfume de Agosto sobe do fim do tempo
com risos a cantar e manhãs a nascer
mas são vozes do cofre, que estão em movimento
ou retratos antigos a chegar pra nos ver.
Tudo quanto nos cerca tem o tom conhecido
da constante paisagem do que somos na vida
como oferenda eterna do eco pressentido
no timbre cor de mel que nos serena ainda.
Minutos de surpresa e continua a espera
vertigem de viagem no encontro dos dias
mesmo se o mês de Outubro nos cheira a Primavera
vão pairando no ar as velhas sinfonias.
A mão que nos segura, vacilando fraqueja
o tempo tem limite, tem portas e fronteiras
o instante sereno que nosso alento beija
vai desfolhar a flor de nossas sementeiras.
Somos ainda sol amarelo de Verão
uma praia aquecida no acaso da tarde
uma palavra solta na voz duma canção
uma fímbria de luz na breve imensidade.
Uma certeza só, perdida, inviolável
que nada trairá nem poderá vencer
o encontro perene de olhar inevitável
vestido de distância, mas que nos faz doer.
O solitário apito, um chamamento apenas
acena-nos de leve a esperada viagem
e nossas pobres forças, humanas, tão pequenas
vão subir o degrau da última coragem.
Marilia Gonçalves
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