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O BLOGUE UNIVERSAL E INTERNACIONALISTA


A praça é do povo. Como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade. Cria águias em seu calor! ...

A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.

Castro Alves
Jornal de Poesia

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? / Em que mundo, em que estrelas tu te escondes / Embuçado nos céus? /Há dois mil anos te mandei meu grito / Que, embalde, desde então corre o infinito... / Onde estás, Senhor Deus?

Castro Alves


MINHA LEI E MINHA REGRA HUMANA: AS PRIORIDADES.

Marília Gonçalves

Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres.
Albert Einstein

Perguntas Com Resposta à Espera

Portugal ChamaS e Não Ouvem a Urgência de Teu Grito? Portugal em que http://www.blogger.com/img/gl.bold.gifinevitavelmente se incluem os que votando certo, viram resvalar de suas mãos a luz em que acreditavam; A LUTA CONTINUA )
Quem Acode à Tragédia de Portugal Vendido ao Poder dos Financeiros?! Quem Senão TU, POVO DE PORTUGAL?! Do Mundo inteiro a irmã de Portugal a filha. Marília Gonçalves a todos os falsos saudosistas lamurientos, que dizem (porque nem sabem do que falam) apreciar salazar como grande vulto,quero apenas a esses,dizer-lhes que não prestam! porque erguem seus sonhos sobre alicerces de sofrimento, do Povo a que pertencem e que tanto sofreu às mãos desse ditador!sobre o sofrimento duma geração de jovens ( a que vocês graças ao 25 de Abril escaparam)enviada para a guerra, tropeçar no horror e esbarrar na morte, sua e de outros a cada passo! sobre o sofrimento enfim de Portugal, que é vossa história, espoliado de bens e de gentes, tendo de fugir para terras de outros para poder sobreviver, enquanto Portugal ao abandono,via secar-se-lhe o pobre chão, sem braços que o dignificassem! Tudo isso foi salazar, servido por seus esbirros e por uma corte de bufos e de vendidos, que não olhavam a meios,para atingir seus malévolos fins!Construam se dentro de vós há sangue de gente, vossos sonhos, com base na realidade e não apoiando-os sobre mitos apodrecidos, no sangue de inocentes!!! Marília Gonçalves (pois é! feras não têm maiúscula!!!)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Indícios de Mariana.

 

Indícios de Mariana.
              IN
POEMAS PARA MARIANA

Mariana à minha espera
ficou no dia calada
pra ela era primavera
para mim não é mais nada.

O sonho de Mariana
nasceu no ventre voou
flor ingénua que se engana
à beira-vida parou.

Infante d’oiro d’estrelas
meus olhos partem contigo
pétalas d’água que ao vê-las
no meu sonhar te persigo.

Marilia Gonçalves 




Manhã estival; manhã de pescaria

 

Manhã estival; manhã de pescaria
O Rui e eu íamos a pé, carregados de material de pesca
passado o Cais Velho (Cais Neves Pires) a caminho do que hoje é o Porto de Faro; a meio caminho encontrava-se um arco, reminiscência de alguma antiga obra não acabada e decidimos experimentar ali, as águas dum braço lagunar que por ali se precipitava noutro mais além! Intrincado de braços da nossa Ria Formosa com infindos sapais e bancos de areia. Por conseguinte, àquela hora, matutina, o Cais Novo ficava para depois.
Tirámos o diverso material das suas embalagens e respectivo cesto, armámos as canas e depois de iscar os anzois, canas à água. Por ali ficámos aguardando peixe que não parecia decidido a picar.
Paciência de pescador é assim mesmo.
Mas fomos surpreendidos por algo que em vez de vir da água nos chegava do céu azul, sem mácula Uma andorinha, em voo de travessia, acompanhava, oh que coisa de maravilhar, um pequeno periquito, decerto fugido de gaiola. A avezinha tinha um c voar curto, o que para acompanhar a andorinha tornada o seu voo insuficiente. Mas a andorinha, também queria o seu companheiro! Em voo largo, fazia enorme círculo e voltava ao lado só periquito. Voltas e voltas repetiam-se com a andorinha procurando sempre o voo de seu amigo. Ignoro que história de amor as asas tão deferentes escreviam riscando os céus!
Mas sei que passado um tempo regressávamos a casa bem impressionados, mas totalmente desinteressados em tal dia, da pescaria

                          Marília Gonçalves
             


Mariana Refachinho
Lindo!! Parabéns!


Peut être une image de bateau, Lac Powell et crépuscule

La poésie faisait circuler au plus profond de moi le nectar des jours

 poema traduzido do português (poema abaixo)



La poésie faisait circuler au plus profond de moi le nectar des jours

Mon regard intérieur divaguait délinéant pénombre et ombre

Dans un étrange contraste liquéfié

De que seuls les cils témoignaient  

Mains habituées au vol ramassaient des mots

Tourbillonnant dans mon sentiment

Étrange voix végétale, sortant des arbres

Cela résonnait étrangement dans ma voix aquatique

Étrange symphonie s’élevait du sol

Étincelles de lumière

Qui en semence

Se propageait en cantiques de silence. Amer et sucré

S’élevait le fruit cueilli sur les hauteurs

De l’idéalité permise.

Transfiguration de l’onde

Qui ondulante cherchait dans le sable

Une réponse à chaque question engourdie

La force fragile du présent

Transfigurait les pétales volants

Que certains s’évertuaient à nommer

Noctuelle de l’instant

Ouvraient des avenues dans les nuages qui du gris avaient la couleur

Jusqu’au moment du brio et du brillant

Couleur de la lumière

Les questions trouvaient leur réponse

Se défaisant en davantage de questions.

Herbes d’imaginaires prairies

Fructifiaient sur des lèvres transparentes

Où le mot surgissait.

Rêverie claire de l’heure

Taisant le fruit du travail

Des ailes poussaient sur chaque fleur perdue.

Silence de chardons

Douleur estompée

Cristal scintillant

Bouche amère d’une histoire qui ne fut jamais

Étrange ballet

Qui parlait de particules sonores

Et se taisait après.

L’eau fécondait l’air

D’une couleur à définir.

Les voix résonnaient muettes et fatiguées

De ne pas être

Les doigts voix du geste

Traçaient des espaces blancs

Il pleuvait de la lumière

Obscurcie

D’avoir perdu la racine de l’ombre

Le mouvement circulaire suivait une route invisible

Poésie sur l’heure

Pour advenir

De l’inventé plume

Ciselait des cantiques à naître.

Noctuelle de la nuit

Voix sombre

Qu’à l’aube

Souriait.

Source de l’emphase

Des bruits tourbillonnaient

À dénuder

Prodige de la parole

Qui cherche des mains

Où faire entendre sa voix

Une obstination insatiable

Invention d’un poème jamais écrit

Atterrissait scintillant

Dans la main qui ne savait pa

 

Du poème portugais de Marilia Gonçalves  -A poesia fazia circular no meu profundo o néctar dos dias

Traduction en français du Professeur Universitaire à Universidade Aberta de Lisboa Luis Pimenta Gonçalves


poema em português




A poesia fazia circular no meu profundo o néctar dos dias

O meu olhar interior divagava delineando penumbra e sombra

Num estranho contraste liquefeito

De que só as pestanas testemunhavam

 Mãos habituadas ao voo colhiam palavras

A rodopiar no meu sentir

Estranha voz vegetal, saída das árvores

Ecoava estranhamente na minha aquática voz

Estranha sinfonia levantava do solo

Centelhas de luz

Que em semente

Se propagava em cânticos do silêncio.

Amarga e doce

Erguia-se o fruto colhido nas alturas

Da idealidade permitida.

Transfiguração da vaga

Que ondulante procurava na areia

Resposta a cada pergunta entorpecida

 A força fragilizada do presente

Transfigurava as pétalas voadoras

Que alguns teimavam em chamar

Mariposas do instante

Abriam avenidas nas nuvens que de cinza tinham cor

Até ao momento de brio e brilho

Cor de luz

As perguntas encontravam sua resposta

Desfaziam-se em mais perguntas ainda.

Ervas de imaginários prados

Frutificavam em lábios transparentes

Onde a palavra surgia.

Devaneio claro da hora

Emudecia o fruto do labor

Brotavam asas em cada flor perdida.

Silêncio de cardos

Dor esmaecida

Cristal tremeluzente

Boca amarga duma história que nunca foi

Estranho bailado

Falava de partículas de som

E silenciavam após.

A água fecundava o ar

De cor por definir.

Vozes soavam caladas e cansadas

De não ser

Os dedos voz do gesto

Traçavam espaços brancos

Chovia luz

Obscurecida

De ter perdido a raiz da sombra

O movimento circular seguia por invisível estrada

Poesia na hora

Por chegar

 Da inventada pena

Burilava cânticos por nascer.

Melopeia da noite

Soturna voz

Que ao dealbar

Sorria.

Fonte da ênfase  

Rodopiava sons

Por desnudar

Prodígio da fala

Que procura mãos

Onde ter voz

A pertinácia insaciável

Invento de poema nunca escrito

Poisava a fulgurar

Na mão que não sabia.

 

          Marilia Gonçalves

 


 

 

 

 

 

 

 

 

PENSAMENTO


 

poema vencedor no Concurso Internacional de POESIA em CONCORDANCE Marília Gonçalves.


 

17 de Setembro 2024

 Au #Portugal 🔥 😱 

Aujourd'hui 126 feux actifs ??? Les images qu'ils nous envoient de la nuit sont terrifiantes

 





 

uma jovem Pintora

 Bom Dia, entre a Place du Tertre e o Sacré Coeur, sur la Place Jean Marais, 

 uma jovem Pintora apareceu onde pinta e vende suas telas.


Mari
lia Gonçalves



Meu país é marinheiro

 

Meu país é marinheiro
virado pró mar azul
nosso canteiro sequeiro
na longa seca do sul.

Meu país é marinheiro
virado para o mar largo
mal esqueceu do cativeiro
amargo fundo letargo.

Meu país é marinheiro
virado para o mar alto
vai num bote cavaleiro
cavalgando sobressalto.

Meu país é marinheiro
a vogar no mar da fome
é ninho de aventureiro
que o vende rói e consome.

Levado na maré
vai vogando tristemente
baixa-mar sem preia-mar
com vazante e sem enchente.

Meu país é marinheiro
virado para o futuro
teu povo, teu faroleiro
acende uma luz no escuro.

Meu país é marinheiro
não volta mais ao passado
daqui para o mundo inteiro
lança fraterno o seu brado!

Marília Gonçalves. 
 

 


Catarina de teu nome ceifeira do Alentejo

 

Seara Foste e Abril

Catarina de teu nome
ceifeira do Alentejo
eu quero cantar em ti
dias que ainda não vejo.

Venho de longe do tempo
em que a escuridão doía
mas já ouvia teu nome
ceifeira que te sabias
irmã de Abril por nascer.

Catarina de teu nome
ceifeira do Alentejo
o pão de hoje tem teu sangue
presente, vivo, a dizer
Catarina do futuro
que vieste do passado
pomba branca a adejar
o Alentejo tem cravos
nas pétalas a sonhar.
Foste um brado no caminho
que não mais há-de passar.
Foste semente de Abril
és mulher, memória, mar.

    Marília Gonçalves.




Cavalo de asas de vento

 Cavalo de asas de vento
cascos de nuvens
no pensamento
 bruma da manhã
ao entardecer salta
fronteira poeirenta
de cada esperança vã.


           Marilia Gonçalves 




4/11/1967 Lisboa Triste Dia

 

24/11/1967 Lisboa
Triste Dia

Mariana de olhos pretos
e de vermelho sorriso
desfolha sede de afectos
no jardim do paraíso.

Mariana de olhos de água
a nascente verdejante
faz brotar versos de mágoa
sobre teu esquife de infante.

Marilia Gonçalves 
 

 

O mar na areia soava

 

O mar na areia soava
quando a menina o olhou...
Não sei o som que entoava
quando a menina cantou.

O mar na areia rolava
quando a menina cantou
não sei que canção soava
no silêncio que a escutou.

O mar na areia espumava
quando a menina calou.
Não sei que som se ocultava
na voz do mar que rolou.

O mar na areia quebrava
menino sonho voou...
Sei que nunca mais voltava
à asa que se afundou.

Marília Gonçalves 
 

 

RETRATO ADOLESCENTE

 

RETRATO ADOLESCENTE

Ou desordem ou quimera
templo pagão ou tormenta
ou nevão ou primavera
ou açúcar ou pimenta.
Ou lírio branco ou papoila
ou acácia da manhã
ou noite que se esboroa
ou Hipocrene ou titã
Ou persistência divina
ou fugaz impertinência
ou coração de menina
ou terrível inclemência.
Caminho de adolescente
à procura do instante
entre nascente e poente
negando a dor. Caminhante.


Marilia Gonçalves 
 

 


atonia

 

As noites passam

chegam os dias

entre sombrias

névoas de luz

os dias passam

atrás dos dias

sempre a esperar

mais pensamentos

enevoados

desta atonia

de naufragados

que rente à margem

do novo dia

não têm coragem

para a braçada

que os salvaria.

 

Marilia Gonçalves  

 


 

 

 

           

Nicolás Guillén: poesía mulata | Vida y obra del Poeta Nacional de Cuba

SONGORO COSONGO: La obra de NICOLAS GUILLEN como expresión de mestizaje ...

Songoro cosongo (Remasterizado)

Nicolás Guillén - Biografía

FAZES-ME FALTA MÃE

 FAZES-ME FALTA MÃE
QUE LONGOS TÊM SIDO OS DIAS SEM TI
AONDE ESTÁS E ANDAS TODA A MINHA SAUDADE E MILHÕES DE JINHOS.

Lininha


Marilia Gonçalves




Oh Mãe

 


Oh Mãe
Lembrei-me de ti estavas à espera
Cabelo louro e curto na aberta janela
O teu sorriso livre primavera
Estendia na paisagem de Palmela.
No céu azul vogava leve névoa
Ao longe o Sado azul brilhava mais
E a figueira enorme frente à rua
Dava à paisagem o tom de uma aguarela
Ali naquela casa desmaiavam meus ais.
Entrando em nosso lar, cheirava a Portugal
Os risos ecoavam como oferta
Tudo era tao bonito e natural
fugiam nossos olhos pela janela aberta.
De novo sentia-me menina
E pela força do claro sorriso
Tu recriavas pérola purpurina
E no meu rosto nascia o paraíso.
Um dia ou uma noite nem sei bem
Tuas asas abriram e partiste
E eu a procurar-te minha mãe
Gelava no poema
Ardente e triste.
Não torno nunca mais a esse sol
Nem às canções que cantavas comigo
Vestia-se de breu o rouxinol
Perdi prá eternidade meu abrigo.

                 Marília Gonçalves

 


 

Poema a Menina morta de Frio à Fronteira dum país que não deixou entrar.

 Poema a Menina morta de Frio
à Fronteira dum país que não deixou entrar.

O que foi que aconteceu
menina de olhar gelado
ainda trago preso ao meu
teu corpinho amordaçado
atraiçoaram a Vida
assassinando a infância
minha menina perdida
,na fronteira da distância
o que sabias de guerra
ou duma lei desumana
mataram à beira terra
os monstros feitos de lama.
vês bem que te não esqueceu
voz de poeta te chama
eu a Mulher eu a mãe
que te arranco ao ar em chama.

            Marilia Gonçalves 


PINTOR Peter Tovpev - Peinture à l'huile originale

 



Poema a uma Asa que de mim voou Meus 20 Anos Inesquecíveis

 Poema a uma Asa que de mim voou
Meus 20 Anos Inesquecíveis


Dos cinco filhos que tive
Um de pronto adormeceu
No relógio que parado
Não foi sequer o soluço
Nenhum grito se lhe ouviu
Nenhum ai nenhuma lástima
No adormecer do dia
De dia que era Novembro
O céu de tanto chorar
Teu sono e a minha dor
Alagou terras do Tejo
No ano sessenta e sete
Do século que ora findou
Tanto o tempo não promete
Que em mim Lisboa chorou.

             Marília Gonçalves

 

                     



Antes do 25 de Abril - Testemunho E foto de meus Queridos Pais

















































Antes do 25 de Abril - Testemunho E foto de meus Queridos Pais

O 25 de Abril foi decerto a mais bela página de História que se escreveu em Portugal e até no Mundo
Uma Revolução em que quem detinha as armas tudo fez para nunca ter que servir-se delas!
Mas nem a melhor revolução pode operar milagres, as mentalidades foram parte da herança desse quarenta e oito anos de sofrimento do nosso País.
Por isso pelo vosso humanismo exemplar é o meu coração de menina que foi magoado também e prematuramente que vos diz Obrigada!

Por isso que mais uma vez vou escrever aqui mais um pedacinho de acontecimentos da minha vida de menina filha de antifascista e Militante
O meu pai pertencia ao MUD. Se é certo que as simpatias políticas eram vermelho vivo
era esse o Movimento a que estava ligado.
Meu pai foi preso a 22 de Maio de 1958. Lembro-me de tudo como se fosse hoje e se não esqueci a data, é que na véspera 21 por conseguinte , tinha sido o aniversário de meu pai.
De manhã nesse dia 22 fui para o Externato que frequentava . Vivíamos na Amadora
Do que na classe se passou nessa manha não me lembro de nada de especial porque não havia razão para isso. Uma manhã em que a vida decorria como em todas as outras manhãs e tardes escolares.
À hora de almoço fui a casa para cerca das 14 horas entrar nas aulas outra vez.
Quando cheguei a casa , eu tinha então dez anos, minha mãe veio abrir-me a porta.
Nada havia na expressão de minha mãe que me alertasse para o que quer que fosse.
Foi por isso com espanto que ao ir entrando corredor adiante, comecei a ver a casa virada dos pés para a cabeça, tudo entornado no chão! Tudo fora do sítio habitual. Gavetas fora dos móveis roupas por todo o lado Dirigi-me à cozinha. O mesmo espanto! Tudo revirado e até a despensa tinha as prateleiras esvaziadas. Tudo, tudo espalhado por todo o lado
Enquanto fui observando aquele estado de coisas não me lembro de mais uma vez ter notado algo de estranho no rosto de minha mãe. Mas as palavras que o espanto havia retido, acabaram por sair em forma de pergunta. O que é que aconteceu? E minha mãe o mais naturalmente do mundo respondeu-me:
- Nada! Foi o papá que teve que ir para o Porto de repente e não sabia de umas coisas importantes que tinha que levar e com a pressa foi isto que deu.
- Lembro-me de um mutismo que me tomou, crédula mas estranha. Eu era uma criança sensível que já dizia poesia há alguns anos e em vários sítios. A própria directora do externato que era uma pessoa extraordinária de rectidão e justiça que fazia desabelhar as crianças assim que aparecia pela sua expressão que podia à primeira vista parecer dura, me chamava quando havia algum momento livre para ir declamar para ela. E quanto mais o poema apelasse para sentimentos humanos mais ela exultava. Pois mesmo essa sensibilidade não conseguiu captar senão aquela sensação de espanto que me invadiu.
- É verdade que não muito antes, uma tarde, meu pai chegara a casa com o fato manchado de azul e algo ofegante. Ouvi-o a dizer a minha mãe que na manifestação em Lisboa a guarda republicana lançara os cavalos sobre a multidão e que lhe parecia que umas crianças que iam a passar não teriam ficado bem.
- Mas a conversa não era comigo e nada mais fiquei a saber.
Não percebia patavina de política nessa idade. O que me ensinavam era a proteger os mais fracos, os pobres a gostar das pessoas Mas política, daquilo que pensavam ou faziam até aí nada soube.
Minha avó materna apareceu (para mim inopinadamente e levou-me para casa de familiares onde vivia a sua irmã Josefa, ( a viuva do Alfredo Dinis, mas isso na altura ainda sabia menos, nem que tal pessoa tinha existido. Nessa casa que era a da irmã do Alex, fui recebida com carinho muito mais intenso que o habitual. É possível que bem no fundo de mim começasse a germinar alguma sementinha de ideia, mas sem mais. Uma impressão, uma estranha impressão.
Não voltei à escola até ao fim de semana. No Domingo seguinte minha mãe que estava grávida, tinha mandado fazer um vestido e um casaco comprido rosa velho, parece que o estou a ver...
Disse-me:
- vais ao casamento da prima mas assim que chegares dizes que o papá foi para o Porto e que por conseguinte nem sei se tenho que ir ter com ele, portanto não vou ao casamento, embora tenha muita pena.
É claro que essa minha frase à chegada perto da família tinha a finalidade de os prevenir da minha ignorância dos factos. Assim aconteceu. Acabado o recado fizeram-me um sorriso meigo e nada mais.
Na segunda-feira de manhã, minha mãe completamente tranquila quanto ao meu estado de desconhecimento preparou-me e lá fui para a escola. Externato ou não externato nunca me lembro de dizer senão vou para a escola.
Acabada de sentar na minha carteira, entra a Isabelinha, neta dum amigo de meu pai, e rápida
Lança-me;
Então o teu pai foi preso? De repente num salto estava em pé, e sem hesitar, numa verdade luminosa que não sabia donde me surgia retorqui enérgica:
- Está ! Mas não foi por matar nem roubar! Mas porque é bom!
- Companheiro, nesse momento ergui alto a cabeça e os olhos num jeito que me ficou até hoje e nunca mais em nenhuma circunstância, alguém conseguiu vergar-me a cabeça nem fazer-me baixar os olhos.
E era apenas o início de uma época de provações e de privações que mesmo nesse momento não podia prever. A prisão embora curta, a tortura a perda do emprego que adveio e as suas consequências agravaram a saúde frágil de meu pai!
E tudo a dado momento se fechou à minha frente.
Até que com catorze anos depois de passarmos por muita falta, vim com minha mãe abrir caminho para a vinda de meu pai que começara com vómitos de sangue pouco tempo depois de ser libertado.
À chegada a França em 62 não era já a menina ingénua que chegava
Era uma mulher que a dor es privações haviam amadurecido prematuramente
E deitei-me ao trabalho! Sempre com o mesmo olhar bem erguido!
Mas o que recordo mesmo de casa de mais familiares de casa de meu avô, o tal que era enfermeiro, avô emprestado de segundas “núpcias” de minha avó mas avô de coração era aquela frase que voltava sempre: isto já está por pouco Não tarda cai!
Pois mas os anos foram passando e o fascismo não caía, armado de pedra e cal parecia ser!
Até que foi Abril. (1)
Como duvidar de Abril? Como duvidar do futuro ridente de Portugal! Abril é uma conquista que nunca se perderá! poderá passar e atravessar trilhos tortuosos, mas há-de erguer –se sempre à luz do dia
Porque Abril foi a palavra justa que restituiu a voz a todos os que a dor tinha silenciado
Eu fui apenas uma entre casos e casos sem fim de crianças de quem conheço historias que só muita maldade podiam provocar.
Essa maldade que fechava os olhos ao povo de Portugal era o salazarismo o fascismo de uma hipocrisia ímpar, de falsos sorrisos, de palavras que se fingiam mansas para enganar incautos.
Os outros os que sabiam, e calaram e participaram, mesmo para a consciência própria que durante anos não tiveram, no momento da morte às vezes ela acorda de dedo acusador e não queria estar no lugar deles.
E isso amigos e Companheiros o povo de Portugal há-de sempre, porque é bom generoso e fraterno, vir lembrar a quem tente ofender ou ferir Abril, que Abril é para sempre a Voz da Liberdade a Voz de Portugal!

Marilia Gonçalves Pimenta Gonçalves
Até hoje nunca tinha querido escrever estes factos, (salvo em poema que escrevi para crianças da minha rua quando meus filhos eram pequenos).
pensei que a dor que mora nestes acontecimentos me faria estoirar de aflição.
Como vê resisti a esta primeira prova do fogo! Quem sabe talvez um dia venha contar mais alguma página da minha vida infantil
Até sempre Capitães!!!!

Marília Gonçalves

(1) um dia contarei como se viveu na família e à nossa volta o decorrer de amanhecer único
que nos devolvia às nossas próprias vidas, de história desviada e em muitos campos interrompida.















Marilia Gonçalves



Meu Pai






Minha Mae



38 sem.







Luis Filipe Ferreira Rios

Obrigado Marília pelo enorme e interpelador testemunho que dás, atravessado pela dôr mas pleno de luta pela justiça e liberdade de Abril! Grande abraço, extensivo a todas e a todos que tens no teu coraçāo e mente e que lutemos por um Mundo Justo, Fraterno e de Paz Viva!

38 sem.



Répondre



































responsabilidade

 

Todo o acto tem responsabilidade partilhada

a não ser o amor solitário, e ainda assim...

todos os nossos gestos

desde os mais leais protestos à atitude cobarde

são consequência de mais de uma vontade

todo o acto tem responsabilidade partilhada

ou não é mais que esgar da nossa sociedade

ou seja nada.

 

  

 


 

mendigos do amor

 

 

Pensamento moribundo

os mendigos do amor

vão procurando no mundo

ternura entre raiva e dor.

 

Seguem sempre buscando

na legítima procura

sonhos que vão desfiando

frémito de desventura.

 

   

 


 

 

 

 

 

 

atavismo

 

Fugiste ao ímpeto

talvez o sol tenha tentado

somente Faetonte

e nas memórias tenha ficado

esse acidente.

Por atavismo hoje rejeitas

a chama ardente.