Bateu-me à porta poema
Como se pressa tivesse
Nem tinha algema de sede
Nem força que o retivesse.
Trazia asa potente
Das voltas que deu ao Mundo
Trouxe pétalas de amor.
Bebendo do mar o fundo.
Olhei e vi o poema
Verter seus olhos marinhos
Porque chorava o cantor
Que vira tantos caminhos.
Que flor trouxera da vida
Entre diferença e verdade
viu gotejar os espinhos
ao sopé da Humanidade.
A cada voo tentado
Cada degrau que vencia
Era uma gota de sangue
Que no poema escrevia.
Saltou de raiva e de dor
Como felino perdido
No paroxismo da dor
Sem nunca se ver vencido
Trepou os dedos rasgados
Por cada sulco de terra
Os gritos silenciados
Ouvia-os na voz da guerra
Viu criança esfacelada
Rompendo o porvir risonho
numa escola devastada
Um livro agora sem dono.
Viu mães esgatanhando o ar
Olhar de louca perdida
Numa canção de embalar
Sem ser morte sem ser vida.
Os homens espuma e rancor
Trazendo filho nos braços
Onde a morte veio depor
A negra flor do deus passos.
A história numa só linha
Poderia ser contada
Porque a vida assim vencida
Era uma gota do nada.
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