O Monstro
Que voz o silêncio em eco levanta
Tremenda feroz gelada sombria
Que nos fecha a mão
nos cala a garganta
E torna a manhã gélida
mais fria
Que vozes de túmulo
Há tanto caladas
Levantam ao cúmulo
O pavor dos dias
E tornam opacas
As brandas paisagens
E tornam as noites tredas
E vazias
Quem anda por dentro
Dos sonhos que temos
Semeando algemas
Que são dessa cor
Em que se amalgamam
Os prantos as penas
Nesse sofrimento
cada vez maior
Em nome de quem
Que monstro severo
Traz em seu sudário
De horrendo luzir
As asas cortadas
Do loiro canário
Que livre pelos ares
Ouvíamos rir
Quem é que nos chega
do mundo dos mortos
com baba de réptil
colando-se em nós
e faz sementeira
no solo que fértil
construímos limpo
sem peias nem pós.
Na ronda dos dias o povo
cantava
cantando bailava
bailando não via
que o monstro rasteiro
pelos ares espalhava
essa pestilência
de que ele vivia.
Enquanto a manhã
não amadurar
a luz que se infiltra
nos olhos ao fundo
o monstro escondido
ainda tentará
cobrir de seu bafo
o tempo perdido
e calar o Mundo.
Marília Gonçalves
(qualquer semelhança com monstro tendo existido, existindo ou vindo a existir, poderia dizer tendo (des)governado, (des)governando ou vindo a (des)governar não é mera coincidência, assumo totalmente a minha responsabilidade)
E Prestem Atenção: tendo ao seu alcance todos os meios de disfarce, O Monstro, pode aparecer todo sorrisos, todo mel, adocicado, mas se procurarmos bem e profundamente descobriremos sempre a marca repugnante de sua mão.