Adiante
Na desditosa noite abriu um Cravo
Uma vermelha flor de luso sangue
Abriu na madrugada sobre o travo
A noite cerrada ali expirava
Numa clara pétala de Esperança
O mais ridente dia começava
Com puro olhar aberto de criança.
Desabavam enfim portas internas
Vedadas há muito para o mundo
E era o renascer de mãos fraternas
Meio século derrubado num segundo.
As grades do olhar do pensamento
Esgarçaram os ares e uma paloma
Abria as asas sobre o céu cinzento
O futuro estava à nossa frente
O crime era o acto a condenar
O riso era possível de repente!
A Paz o Caminho a conquistar!
O povo acreditou e era Abril
Incendiado Maio de canções
A ovelha saía do redil
Os olhos a arder como carvões.
A noite das promessas foi cumprida
Liberdade sem mácula sem sombra
O campesino o pescador viam mudar a vida
Num ímpeto alegre que os assombra.
A guerra fratricida terminava
As mães podiam respirar enfim
Uma nova era começava
Portugal dos Direitos: um Jardim!
Até que um dia...pergunto-me porquê
Alguém manchou a Esperança conseguida.
E esse mês de Abril ainda criança
Viu aos poucos definhar sua subida.
O povo foi perdendo a confiança
Vendo cair de Abril cada conquista
Cerrava-se o caminho para a Esperança
E Portugal perdia-se de vista.
Esquecido da infância dessa História
Que começara na manhã de Abril
O povo desfiava na memória
O sonho promissor e primaveril.
Faltou uma pergunta e a resposta:
Quem nos perdeu de Abril
Dos seus cravos rubros de Vitória
De todo o seu alento juvenil?
No dia em que a resposta for sabida
Portugal Inteiro desce à rua
A vir exigir a própria vida
E a gritar enfim que a Pátria é sua!
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