Levante
Vieste à minha procura
trazias as mãos despidas
e os olhos habitados
por viagens que não fiz.
Tua voz eram trinados
na minha imaginação
os olhos incendiados
na profunda escuridão.
Quando chegaste, eu partia
como a imagem final
do dia que se perdia
nas folhas do laranjal.
Todo o perfume nocturno
era intenso, sensual
o campo, esse testemunho
do cheiro de Portugal.
Levei-te entre hortas, vinhedos
dei-te a provar meu licor
no murmúrio dos segredos
ébrios de sangue e de amor.
Depois esvaziou-se o tempo
o campo despovoou-se...
Mas eu trazia por dentro
uma pérola de mosto!
Marília Gonçalves