Olhos mouros nos meus passos
sombra de memória antiga
distante como os abraços
dessa Lisboa mendiga
do carinho passageiro
na efémera estação
que adormece a Primavera
nos perfumes do Verão.
Olhos mouros nos meus passos
sombra de memória antiga
distante como os abraços
dessa Lisboa mendiga
do carinho passageiro
na efémera estação
que adormece a Primavera
nos perfumes do Verão.
Marília Gonçalves
Meu país é marinheiro
virado pró mar azul
nosso canteiro sequeiro
na longa seca do sul.
Meu país é marinheiro
virado para o mar largo
mal esqueceu do cativeiro
amargo fundo letargo.
Meu país é marinheiro
virado para o mar alto
vai num bote cavaleiro
cavalgando sobressalto.
Meu país é marinheiro
a vogar no mar da fome
é ninho de aventureiro
que o vende rói e consome.
Levado na maré
vai vogando tristemente
baixa-mar sem preia-mar
com vazante e sem enchente.
Meu país é marinheiro
virado para o futuro
teu povo, teu faroleiro
acende uma luz no escuro.
Meu país é marinheiro
não volta mais ao passado
daqui para o mundo inteiro
lança fraterno o seu brado!
Marília Gonçalves
Consequência
Apunhalei a noite nos meus olhos
cravei os dedos na manhã sem escolhos
escutei o tempo a cantar
os silêncios que rasguei
e parei
para escutar.
Marília Gonçalves