Para as crianças que nunca viram um bom Circo:
à Luminosidade
.
O Circo
O circo está montado!
Há dois dias a garotada triunfante
seguiu o circo ambulante
que se instalou no descampado.
Como é garrido depois de estar montado!
ainda há pouco
daquele para nós emaranhado
de tábuas, de ferros, de cordas e de trapos
suando sem descansar
conseguiram, maravilha
ali no ermo da vila
por entre mágoa e tristeza
construir a fortaleza
onde a dor não possa entrar.
Agora está tudo armado
saiu a banda a tocar
as crianças dessa vila
quase sempre tão esquecidas
que pouco lhes acontece
gritam, correm esbaforidas
as bochechas coloridas
enquanto não anoitece.
Dentro do circo vazio
um palhaço pensativo
sentado sem um sorriso
vai mais logo fazer rir.
Ó amigo dos gaiatos
anima teu ar tristonho
bem sabes o circo é sonho
todo em luz e fantasia!
Estás triste palhaço? Espera
mais logo podes chorar
agora a vida é quimera
vais rir, cantar e bailar.
Abriu o circo a magia
abriu o circo ilusão
que a uns vai dar alegria
a outros vai dar o pão.
Arena, palco de luz
a banda toca mais rijo
surge o homem que conduz
o espectáculo regozijo.
Vai começar o desfile
chegaram os trapezistas
vão começar a trepar...
não têm rede por baixo
que nunca lhes falte a mão...
senão adeus ó artistas
do palácio da ilusão.
O tal senhor da cartola
mais a fada em lantejoula
entre muita luz e brilho
vão anunciar o mago
que num dedal faz um lago
duma pomba um grão de milho.
Entra o palhaço a sorrir
traz um ar de mariola,
vai fazer patifaria
ao faz tudo, o Zé Pachola,
o da batata vermelha,
remendos nas calças rotas
que bem chegavam pra três,
vão fazer as cabriolas
as voltas reviravoltas
sonhadas só pra vocês.
E pronto vão-se os palhaços...
mas voltarão outra vez.
A bancada estremece delirante
gargalhadas ressoam pelo ar
em cada olhar o diamante
de alegria sem par.
Crianças nas bancadas, ofegantes,
a recompensa dessa noite de ilusão
são vossas gargalhadas delirantes
são as palmas frenéticas
dessas pequenas mãos.