A noite instalou-se na paisagem
A noite instalou-se na paisagem
Sobre ela ficará por umas horas
Tu segues pela estrada que desfila
Na escuridão procuras Poesia
Também eu a procuro
Viveu sempre a meu lado
Viveu dentro de mim
Pois ainda assim
Apesar dessa luz
Que desperta a manhã
até ao sol poente
Não sei dizer quem é a Poesia
Exatamente
Sei que por vezes há horas de colheita
E quando vou quase adormecer
A Poesia à espreita
Não se deixa esquecer
E mantém-me desperta
A janela da alma bem aberta.
Sei que por vezes em momento estelar
Onde sonho em fusão
Confunde Poeta e Poesia
E abraça-se aos dois
é só nesse momento
Nesse preciso instante
A Poesia risca traços de levante
e tudo rodopia
a noite sai e passa a ser o dia
o sorriso, num tropel de lágrimas
tenras folhas de árvores
seiva que lhe embebe a raiz
Começam a ditar pela noite fora
Róseos versos de aurora
A matinal a que é sempre menina
A que nunca envelhece
Mesmo quando o sol desaparece
alheia à visão que me perturba
transfigura
A Poesia é clara
silêncio a trepidar na noite escura
Fico a contemplar o verso escrito
Como se pó de estrelas varrendo o infinito
Viesse a descair em linha recta
Sem saber se a escrita ali nascida
É o sangue da vida
Ou sangie de poeta
E nesse almejar de inventores
Como se ouvisse o rufo de tambores
A noite ali desperta
Não sabe quem escreve
Se é o poeta ou se é a poesia
Qual dos dois escreve o outro
Saltam versos em fusão
Desse grito de chão
Sob cascos de potro.