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O BLOGUE UNIVERSAL E INTERNACIONALISTA


A praça é do povo. Como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade. Cria águias em seu calor! ...

A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.

Castro Alves
Jornal de Poesia

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? / Em que mundo, em que estrelas tu te escondes / Embuçado nos céus? /Há dois mil anos te mandei meu grito / Que, embalde, desde então corre o infinito... / Onde estás, Senhor Deus?

Castro Alves


MINHA LEI E MINHA REGRA HUMANA: AS PRIORIDADES.

Marília Gonçalves

Grandes almas sempre encontraram forte oposição de mentes medíocres.
Albert Einstein

Perguntas Com Resposta à Espera

Portugal ChamaS e Não Ouvem a Urgência de Teu Grito? Portugal em que http://www.blogger.com/img/gl.bold.gifinevitavelmente se incluem os que votando certo, viram resvalar de suas mãos a luz em que acreditavam; A LUTA CONTINUA )
Quem Acode à Tragédia de Portugal Vendido ao Poder dos Financeiros?! Quem Senão TU, POVO DE PORTUGAL?! Do Mundo inteiro a irmã de Portugal a filha. Marília Gonçalves a todos os falsos saudosistas lamurientos, que dizem (porque nem sabem do que falam) apreciar salazar como grande vulto,quero apenas a esses,dizer-lhes que não prestam! porque erguem seus sonhos sobre alicerces de sofrimento, do Povo a que pertencem e que tanto sofreu às mãos desse ditador!sobre o sofrimento duma geração de jovens ( a que vocês graças ao 25 de Abril escaparam)enviada para a guerra, tropeçar no horror e esbarrar na morte, sua e de outros a cada passo! sobre o sofrimento enfim de Portugal, que é vossa história, espoliado de bens e de gentes, tendo de fugir para terras de outros para poder sobreviver, enquanto Portugal ao abandono,via secar-se-lhe o pobre chão, sem braços que o dignificassem! Tudo isso foi salazar, servido por seus esbirros e por uma corte de bufos e de vendidos, que não olhavam a meios,para atingir seus malévolos fins!Construam se dentro de vós há sangue de gente, vossos sonhos, com base na realidade e não apoiando-os sobre mitos apodrecidos, no sangue de inocentes!!! Marília Gonçalves (pois é! feras não têm maiúscula!!!)

terça-feira, 30 de junho de 2009

Blogue dos Capitaes de Abril

a ver nos Arquivos do blogue Avenida da Liberdade

Blogue dos Capitaes de Abril

momentaneamente encerrado


A minha passagem por Caxias - Como a CIA ensinou os portugueses a torturar


PIDECIA

A minha passagem por Caxias
Como a CIA ensinou os portugueses a torturar

por Christopher Reed [*]
nota de esclarecimento [**]



Durante vários dias, no princípio do verão de 1974, tive acesso livre a uma estranha e terrível prisão próxima a Lisboa, então vazia devido ao golpe que no mês de Abril findou 48 anos de ditadura fascista em Portugal. O meu tempo na prisão de Caxias foi uma experiência jamais esquecida, mas eu não esperava que as memórias retornassem tão vivamente hoje — devido ao estímulo dos Estados Unidos.

Minhas recordações colocam a questão de saber se Caxias era o princípio do arquipélago prisional americano, o controle penal sem lei que hoje se estende desde Guantanamo, em Cuba, ao Médio Oriente, ao Afeganistão e às instalações clandestinas na Colômbia, nas Filipinas e em outros lugares desconhecidos, bem como suspeitos paraísos da tortura por procuração como a Síria. Quando é que os prisioneiros políticos do mundo começaram a responder não aos seus compatriotas e sim ao Tio Sam?

A prisão de Caxias era dirigida pela polícia secreta, a Pide (Polícia Internacional de Defesa do Estado), temida pelos portugueses. Os peões atravessavam a rua para evitar passar em frente à sua sede em Lisboa. Caxias era uma velha fortaleza próxima ao mar, mas no seu interior havia uma moderna câmara de tortura que utilizava as mais recentes técnicas de coerção — concebidas pela US Central Intelligence Agency.

Durante décadas, milhares de prisioneiros políticos, principalmente comunistas e socialistas, deram entrada em Caxias para tortura sistemática e a seguir foram soltos. Por que estes subversivos conhecidos, que haviam dedicado as suas vidas à destruição da ditadura, puderam retornar à liberdade? Porque o êxito das técnicas modernas de tortura importadas pela Pide significava que as suas vidas anteriores haviam-se tornado irrelevantes? Nas palavras da Pide, eles haviam sido "jogados fora do tabuleiro de xadrez". As suas vidas, velhas ou novas, foram destruídas.

O meu guia em Caxias foi um psiquiatra português treinado em Edinburgh, o qual, felizmente por um período curto, fora ali prisioneiro. Ele contou-me que muitos prisioneiros libertados, especialmente os comunistas — considerados como os mais difíceis de quebrar — não voltavam para casa. Ao invés disso afastavam-se das suas famílias, conseguiam um emprego simples, ou caiam no alcoolismo, até mudavam de nomes; tais eram as suas novas vidas como zumbis mentais, criado pela coerção. (Isto foi confirmado por outro psiquiatra que entrevistei que tratou vítimas de Caxias).

O ponto central da tortura era a privação do sono, uma nova descoberta guardada num manual secreto com 128 páginas produzido pela CIA em Julho de 1963 e denominado Kubark Counterintelligence Interrogation . Foi-me dito várias vezes em Caxias que os métodos da Pide provinham da CIA, embora eu não tenha visto uma cópia do Kubark (a palavra é um nome em código para a própria agência). Contudo, Portugal é e era membro da NATO, e como o seu Partido Comunista clandestino era encarado como a maior ameaça à segurança do país, e a Guerra Fria ia de vento em popa, parece não haver dúvida de que a agência de inteligência americana, destinada a combater o comunismo por toda a parte, foi a fonte. Ela tinha também a informação mais recente sobre "interrogatório coercivo".

Isto tornou-se mais claro ao examinar com atenção o manual Kubark, o qual foi desclassificado em 1997 quando o Baltimore Sun ameaçou iniciar um processo de acordo com a lei americana Freedom of Information Act. Ali descreve-se claramente o que eu vi dos métodos de Caxias, e o que li a respeito nos relatórios internos da Pide durante as minhas visitas à prisão em 1974.

O capítulo nove do Kubark, intitulado "Interrogatório coercivo de fontes resistentes pela contra-inteligência" (Coercive Counterintelligence Interrogation of Resistant Sources) , recomenda privação do sono e sensorial a fim de produzir a "síndrome DDD" de "debilidade, dependência e medo" ("debility, dependence, and dread") nos "interrogados". (Observe-se a desumanização desta palavra). As vítimas podiam ser reduzidas à submissão numa questão de horas ou dias, dizia-se ali, mas advertia-se a seguir contra "aplicações duras que ultrapassam o ponto dos danos psicológicos irreversíveis". Esta última frase confirma o que a Pide estava a fazer.

O objectivo do interrogatório da CIA, como Kubark enfatiza reiteradamente, era informação, daí a advertência. Mas quão convenientemente isto servia a Pide, a qual estava menos interessada na informação das suas vítimas do que na sua destruição. Caxias adoptou o Kubark, mas levou deliberadamente os seus métodos ao extremo contra o qual se advertia. Mas como a mente que elaborou o manual do torturador cuidadosamente observa, "A validade dos argumentos éticos acerca da coerção ultrapassa o âmbito deste documento".

Cumprindo as recomendações do manual, as células à prova de som de Caxias não continham distracções. As paredes e os tectos eram brancos mas permaneciam marcas arranhadas — eram fontes excelentes para estimular as alucinações que os prisioneiros experimentavam após os primeiros poucos dias sem sono. A iluminação, como o Kubark recomendava, era fraca, artificial, e a sua fonte invisível. Enormes aparelhos escondidos de ar condicionado-aquecimento podiam em minutos tornar a temperatura da sala fria como o gelo ou ardente como o deserto.

O mobiliário, principalmente uma mesa e umas poucas cadeiras, era protegido nas pontas para impedir os prisioneiros de se tentarem matar chocando a cabeça contra os mesmos, como fizeram alguns. Os tectos da cela tinham alto-falantes que difundiam sons ruidosos e terrificantes, ou por vezes os choros e soluços das suas esposas ou filhos. A Pide havia-os gravado e executava-os a partir do "estúdio" central que eu vi.

As refeições eram servidas aleatoriamente, de modo deliberado. Um aparente pequeno-almoço podia chegar às 16 horas; o jantar à meio da noite. Não eram permitidos relógios. Ah, sim — as células não tinham camas. O record de privação de sono de um prisioneiro foi de um jovem engenheiro, um comunista, mantido desperto durante um mês. Ele cometeu o suicídio após a sua libertação.

Como se pode manter alguém desperto durante semanas? O meu amigo psiquiatra sentou-me na mesa revestida de plástico e pediu-me para fingir que adormecia. Fechei os olhos — para ser sacudido por uma aguda mas penetrante série de sons metálicos. Ele havia apanhado uma moeda de um escudo e simplesmente batia-a sobre a mesa. Espantosamente, habitualmente isto era suficiente, e os guardas revezavam-se horas sem fim. Um outro método era lançar uma caneca de água fria na cara do prisioneiro. E naturalmente as gravações em fita estavam sempre disponíveis.

Em tempos mais antigos a Pide era famosa pela brutalidade da tortura. Mas isto foi suavizado com os seus benevolentes guias da CIA; a violência era evitada. Eu vi um relatório sobre um responsável da Pide rebaixado por bater num prisioneiro, renovando assim a sua resistência. Como diz o Kubark-CIA: "A brutalidade física directa apenas cria ressentimento, hostilidade, e mais desafio". O relato sobre o responsável da Pide queixava-se de que a sua violência havia "atrasado o tratamento". Os prisioneiros de Caxias não eram deixados nus e não sofriam coerção sexual sistemática. Isto veio anos depois — em 1983 quando a CIA actualizou o Kubark e recomendou despir prisioneiros e mantê-los vendados. Presumivelmente, o acréscimo da manipulação sexual é a ideia mais recente dos intelectuais americanos da tortura.

O manual de 1983, utilizado entusiasticamente pelos clientes da CIA nas odiosas guerras "contra" aos nacionalistas de esquerda da América Central nos anos do presidente Reagan, foi alterado em 1985 após publicidade desfavorável. Uma página inserida declarava: "A utilização de força, tortura mental, ameaças, insultos, ou exposição a tratamento desumano de qualquer espécie como ajuda ao interrogatório é proibida pela lei tanto internacionalmente como internamente; não é nem autorizada nem perdoada". Mas, como eles dizem, o que vai de um lugar para outro acaba por voltar.


21/Mai/2004



[*] Christopher Reed foi o correspondente do London Guardian em Portugal entre 1974 e 1976. Escreve agora para o London Observer e outros jornais. O seu email é: christopherreed@earthlink.net .

O manual da CIA encontra-se em http://www.kimsoft.com/2000/kubark.htm .


[**] Alguns reparos ao artigo "A minha passagem por Caxias", de Christopher Reed

Sendo o objectivo deste artigo positivo e de denúncia da tortura no Portugal fascista, como local de prática e experiências ao serviço e sob instruções da CIA/USA, há algumas inexactidões que retiram valor, peso e credibilidade ao mesmo. É um artigo com uma orientação clara e correcta, que alguns elementos secundários não devem ofuscar. Assim:

1 - A imagem do Forte de Caxias apresentada não é a da prisão, mas a de um forte militar existente, que não é associado historicamente à prisão, e que não foi a prisão politica fascista [a referida imagem foi retirada de resistir.info. Nessa prisão localizada também em Caxias foram praticadas as torturas referidas no artigo;

2 - A actuação da PIDE não foi a de torturar e depois "libertar", mas sim torturar, condenar e prender por tempo indeterminado através das célebres medidas de segurança de 6 meses a 3 anos prorrogáveis (há casos de absolvição com prisão efectiva por cumprimento de medidas de segurança; era muito frequente que no final do cumprimento da pena fascista a prisão continuasse com medidas de segurança.

3 - Não é verdade que, uma vez libertados, os presos políticos ou caíssem no alcoolismo, ou mudassem de nome, ou se afastassem dos familiares: eram prestigiados e respeitados (o que se verificou largamente no 25 de Abril). O traço comum foi o de continuar a luta, legal, semi-legal ou clandestinamente, normalmente nas fileiras do PCP.

4 - Nas salas de tortura a iluminação era visível, de luz intensa e violenta, e não havia aquecimentos/ar condicionado escondidos.

5 - As refeições eram servidas a horas certas. Com drogas misturadas? Pelo menos esta ameaça era feita insistentemente.

6 - O engenheiro sujeito a tortura do sono fui eu (31 dias e noites em 33 dias de calendário), e não me suicidei.

Porque penso que este sitio deve ser respeitado e respeitável, aqui vai este esclarecimento, que é feito com sentido positivo e de ajuda,
com um abraço
Fernando Vicente
26 de Maio de 2004

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/
Este artigo encontra-se em http://resistir.inf

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Fado e Música libanesa



Música Libanesa


Rabih Abou Khalil
e o GRUPO

groupeRabih Abou-Khalil: Oud
Jarrod Cagwin: Drums
Michel Godard: Serpent, Tuba, Acoustic Bass Guitar
Walter Quintus: Sound Engineer
Luciano Biondini: Accordion (Morton's Foot, Em Português)
Ricardo Ribeiro: Voice (Em Português)
Gevorg Dabaghyan: Duduk (Songs for Sad Women)
Joachim Kühn: Piano, Saxophone (Journey to the center of an Egg)
Gavino Murgia: Voice, Saxophone Soprano (Morton's foot)
Gabriele Mirabassi: Clarinet (The Cactus of Knowledge, Morton's foot

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Maldição Poema de JAIME CORTESÃO


Maldição

Poema de JAIME CORTESÃO

Por ti, pelo teu ódio à Liberdade
à Razão e à verdade,
a tudo o que é viril, humano e moço,
a fome e o luto apagaram os lares
e os homens agonizam aos milhares
no exílio, no hospital, no calabouço.


Por ti raivoso abutre
cujo apetite sôfrego se nutre
de lágrimas, de gritos, de aflições
gemem nas aspas da tortura
ou baixam em segredo à sepultura
os màrtires que atiras às prisões.

A este claro povo, herói dos povos,
que deu ao Mundo mundos novos,
mais estrelas ao céu, mais luz ao dia;
a este livre e luminoso Apolo
atas as mãos, os pés e o colo,
e encerras numa lôbrega enxovia.

Falas do céu, como um doutor no templo
mas tu encarnaçao e vivo exemplo
da hipocrisia vil dos fariseus,
pelos sagrados laços que desunes,
pelos teus crimes, até hoje impunes
roubas ao mesmo crente a fé em Deus.

Passas...e mirra a erva nos caminhos,
as aves, com terror, fogem aos ninhos,
e ao ver-te o vulto gélido e felino,
mulheres e mães, lembrando os lastimosos
casos de irmãos, de filhos ou de esposos,
bradam crispadas as mãos: Assassino! Assassino!

Passas... e até os velhos, cujos anos
têm costumado a monstros e tiranos
dizem, com a boca cheia de ira e asco:
-Sobre esta Pátria mísera que oprimes,
jamais alguém foi réu de tantos crimes.
vai-te! Basta de vítimas!. Carrasco!

Passas... e ergue-se, vai de vale a cerro
dos hospitais, do fundo das masmorras
às inospitas plagas do desterro,
um coro de ais, de imprecações, de morras.

São multidões que rugem num só brado:
- Maldita a hora em que tu foste nado!
-Que se malogre tudo quanto almejas;
-Conturbem-se os teus dias de aflição,
neguem-te as fontes água, a terra pão
e as estrelas luz -Maldito sejas.














Poema que eu dizia em Paris com 16/17 anos

Com os meus mais reconhecidos agradecimentos, ao Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, pela generosidade com que me facultaram o acesso ao
Poema Maldição de Jaime Cortesão, aqui vos deixo o poema como testemunho do Poder da poesia e o quanto a força da Palavra pode e deve servir as causas justas no combate pela Liberdade Cidadã e pelos Direitos Humanos
Quero agredecer a pessoa que teve a gentileza de me enviar o poema
assim como a amiga ISABEL PESTANA que respondendo ao meu apelo na procura do poema, me indicou onde este se encontrava
um GRANDE OBRIGADA A Natércia Coimbra cd25a@ci.uc.pt
Coordenadora do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra pelo seu cuidado e trabalho
e
VIVA O 25 de ABRIL HOJE E SEMPRE

Marília Gonçalves





Wikipédia

para que nada fique obscuro no poema

Fariseu (do hebraico פרושים) é o nome dado a um grupo de judeus devotos à Torá, surgidos no século II a.C.. Opositores dos saduceus, criam uma Lei Oral, em conjunto com a Lei escrita, e foram os criadores da instituição da sinagoga. Com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a queda do poder dos saduceus, cresceu sua influência dentro da comunidade judaica e se tornaram os precursores do judaísmo rabínico.A palavra Fariseu tem o significado de "separados", " a verdadeira comunidade de Israel", "santos".

Sua oposição ferrenha ao Cristianismo rendeu-lhes através dos tempos uma figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulam as leis para seu interesse. Esse comportamento deu origem à ofensa "fariseu", comumente dado às pessoas dentro e fora do Cristianismo, que são julgados como religiosos aparentes.

*********

No entanto os "perushim" eram uma seita de grande influência em Israel devido ao ensino religioso e político. Aceitavam a Torá escrita e as tradições da Torá oral, na unicidade do Criador, na ressurreição dos mortos, em anjos e demônios, no julgamento futuro e na vinda do rei Messias. Eram os principais mestres nas sinagogas, o que os favoreceu como elemento de influência dentro do judaísmo após a destruição do Templo. São precursores por suas filosofias e idéias do judaísmo rabínico.



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OUTRO POEMA
DE RESISTÊNCIA
DE
Jaime Cortesão


POESIA DA RESISTÊNCIA – Romance do Homem da Boca Fechada


Jaime Cortesão – Romance do Homem da Boca Fechada

- Quem é esse homem sombrio
Duro rosto, claro olhar,
Que cerra os dentes e a boca
Como quem não quer falar?
– Esse é o Jaime Rebelo,
Pescador, homem do mar,
Se quisesse abrir a boca,
Tinha muito que contar.

Ora ouvireis, camaradas,
Uma história de pasmar.

Passava já de ano e dia
E outro vinha de passar,
E o Rebelo não cansava
De dar guerra ao Salazar.
De dia tinha o mar alto,
De noite, luta bravia,
Pois só ama a Liberdade,
Quem dá guerra à tirania.
Passava já de ano e dia…
Mas um dia, por traição,
Caiu nas mãos dos esbirros
E foi levado à prisão.

Algemas de aço nos pulsos,
Vá de insultos ao entrar,
Palavra puxa palavra,
Começaram de falar
- Quanto sabes, seja a bem,
Seja a mal, hás de contá-lo,
- Não sou traidor, nem perjuro;
Sou homem de fé: não falo!
- Fala: ou terás o degredo,
Ou morte a fio de espada.
- Mais vale morrer com honra,
Do que vida deshonrada!

- A ver se falas ou não,
Quando posto na tortura.
- Que importam duros tormentos,
Quando a vontade é mais dura?!

Geme o peso atado ao potro
Já tinha o corpo a sangrar,
Já tinha os membros torcidos
E os tormentos a apertar,
Então o Jaime Rebelo,
Louco de dor, a arquejar,
Juntou as últimas forças
Para não ter que falar.
- Antes que fale emudeça! -
Pôs-se a gritar com voz rouca,
E, cerce, duma dentada,
Cortou a língua na boca.

A turba vil dos esbirros
Ficou na frente, assombrada,
Já da boca não saia
Mais que espuma ensanguentada!

Salazar, cuidas que o Povo
Te suporta, quando cala?
Ninguém te condena mais
Que aquela boca sem fala!

Fantasma da sua dor,
Ainda hoje custa a vê-lo;
A angústia daquelas horas
Não deixa o Jaime Rebelo.
Pescador que se fez homem
Ao vento livre do Mar,
Traz sempre aquela visão
Na sombra dura do olhar,
Sempre de boca apertada,
Como quem não quer falar.

Este poema de Jaime Cortesão circulou clandestinamente nos anos trinta e foi publicado no Avante em 1937 . A publicação de um poema de um republicano sobre um anarquista no jornal comunista inseria-se nos esforços de Francisco Paula de Oliveira /”Pavel” para reforçar uma política de frente popular em Portugal . Sobre Jaime Rebelo veja-se a sua necrologia em Voz Anarquista 1 , 22/1/1975 e César Oliveira , “Jaime Rebelo : Um Homem Para Além do Tempo ”


sexta-feira, 19 de junho de 2009

PORTUGAL e seus ARTISTAS!!!!!







Quinta-feira, 14 de Agosto de 2008

Maria Keil

Esta senhora bonita é a nossa amiga Maria Keil

artista plástica.



Em 1941, via-se a si própria desta maneira

.


Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933.

De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações,

que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.

Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano.

Estes pormenores das estações do “Intendente” (1966) e “Restauradores” (1959), são bons exemplos.


Parêntesis: Qualquer alteração na “Gare do Oriente” do Arq. Calatrava, ou nas Torres das Amoreiras, do Arq. Tomás Taveira, só a título de exemplo, têm de ser encomendadas ao arquitecto que as fez e mesmo assim, ele pode recusar-se a alterar a sua obra original. Se os donos da obra avançarem para a alteração sem o acordo do autor, podem ter por garantido um belo processo em tribunal, que acabará numa “salgada” indemnização ao autor.

Finalmente, a história! Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se dar ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. Mais tarde, depois da obra irremediavelmente destruída, alguém se encarregaria de apresentar umas desculpas esfarrapadas e “compreender” a tristeza da artista.

A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.

Perguntam vocês “porquê, Samuel?” e eu tão aparvalhado como vós, “Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!

Este país, por vezes consegue ser “ainda mais extraordinário” do que é o seu costume! Ou não?


autor desconhecido


quinta-feira, 18 de junho de 2009

HOME - un film de Yann Arthus-Bertrand


o FILME EM DEFESA DA VIDA

HOME - un film de Yann Arthus-Bertrand


A TERRA é NOSSA CASA

O MUNDO é NOSSA CASA


em portugues PARTE 1


e seguintes no mesmo Site

Filme sem fins lucrativos


LEGENDAS

quarta-feira, 17 de junho de 2009

terça-feira, 16 de junho de 2009

Luta por ABRIL Sempre

em Liberdade e Cidadania a luta por Abril continua a ser a palavra do dia
venham testemunhar, venham trazer a vossa opinião
para reerguer Portugal e a Esperança no Futuro
venham dizer a justiça da vossa voz

Marília

Liberdade e Cidadania

quarta-feira, 10 de junho de 2009

STOP ao Cancro do Cólo do Útero na Europa

Assine a petição



STOP ao Cancro do Cólo do Útero na Europa


> Todos os anos 50.000 mulheres são diagnosticadas com cancro do cólo do útero e 25.000 morrem devido a esta doença. Programas de rastreio organizados para o cancro do cólo do útero podem prevenir até 80% destes cancros. As novas tecnologias, desde que implementadas com os programas de rastreio organizados, têm o potencial de reduzir ainda mais as taxas de cancro do cólo do útero, e prevenir quase todos os casos desta doença na Europa.
Nós, abaixo assinados, chamamos a atenção do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e de todos os Governos Nacionais da Europa para:

> 1. Trabalhar em conjunto na implementação de programas de prevenção para o cancro do cólo do útero, de acordo com as recomendações do Conselho da União Europeia e com as Recomendações Europeias para a Garantia de Qualidade no Rastreio para o Cancro do Cólo do Útero.

> 2. Apoiar a criação de programas de educação para a saúde para assegurar que todas as mulheres estejam cientes da importância da prevenção do cancro do cólo do útero e que beneficiem dos serviços que lhes são disponibilizados para este efeito.

> 3. Facilitar a troca de boas práticas entre os países da Europa de modo a que todos possam beneficiar das melhores medidas possiveis que existem na Europa.

> 4. Apoiar programas de investigação independentes de modo a implementar novos métodos de rastreio e vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV) para assegurar que se obtenham as maiores reduções no cancro do cólo do útero na Europa.

5. Reconhecer e apoiar o papel essencial e determinante das instituições de caridade, das associações de doentes, organizações não governamentais e trabalho voluntário com o objectivo de reduzir o cancro do cólo do útero na Europa.
>


Faça aqui o download do Manifesto



Assine aqui a petição

terça-feira, 9 de junho de 2009





























Notícias de Orlando Gonçalves

"Não cedi, não me resignei. Queiram ou não queiram, um D. Quixote coabita em cada um de nós" - escreveu Orlando Gonçalves no seu último livro, "Enredos da Memória", um romance de certa forma autobiográfico. Foi essa força da natureza que lhe enformou a vida, sem desfalecimentos. Arrojando as dificuldades, padecendo injustiças, mas sem nunca se resignar.

"Vencendo a treva e ignorando a insânia, amanhã, em todos os amanhãs, aquele mesmo sol que eu vira agonizante, ressuscitará em promessas, lembrando aos homens que pode sempre haver um novo dia".
Essa era a sua forma de partilhar a vida, a que não faltava uma genuína dose de sonho e uma incomensurável solidariedade.


http://www.noticiasdaamadora.com.pt/nad/texto.php?cod=orlandogoncalves

AQUI





Orlando Gonçalves, dirigiu o Notícias da Amadora entre 1963 e 1994, ano da sua morte.
Esteve preso na Cadeia do Aljube e no Forte de Caxias. A segunda vez que esteve preso foi em 1974 e foi libertado após o 25 de Abril.






O Notícias da Amadora


http://www.noticiasdaamadora.com.pt/

Um dos Jornais que se destacaram e cumpriram durante o fascismo-salazarismo-caetanismo a sua função de informar honesta e integramente os portugueses

este Jornal fundado em 1958 tornou-se pela direcção de Orlando Gonçalves conhecido em todo o País como um dos Jornais da Resistência, ultrapassando as fronteiras de Portugal foi para os portugueses no exílio um belo e magnífico grito de integridade e Esperança

Pagou caro Orlando Gonçalves , a sua honesta e sincera ética de Jornalista pelo que foi preso durante o fascismo mais que uma vez, sofrendo as consequências inerentes à prisão política.

poderemos mais uma vez verificar como se calava, se reduzia ao silêncio, em Portugal a força da Verdade, pela violenta força da opressão e da repressão!

Isso era o salazarismo! Essa imundície de hipocrisia, esterco de vícios vestido de falsa mansidão!

O Notícias da Amadora,dirigido apôs o desaparecimento de Orlando Gonçalves, por Orlando César,seu filho, que começou no Notícias de Amadora sua carreira de Jornalista, tendo colaborado em inúmeros Jornais e Revistas. Orlando Gonçalves e seus colaboradores, os seus Jornalistas, resistiram contra ventos e marés à ditadura fascista e o Jornal prosseguiu sua missão informativa desde então até que há cerca de um ano o poder económico, esse vampiro que tudo absorve e controla pela força financeira de que dispõe, conseguiu empurrar o actual Director Orlando César, ao encerramento do Jornal em papel, para continuar a existir como Jornal em Linha através da Internet

Convido veementemente; todos os antifascistas a visitas assíduas no
Site do Notícias da Amadora num solidário gesto para com quem sempre apesar das dificuldades, cumpriu o seu dever de informar os seus compatriotas.

O meu abraço ao Jornal e a todos os que nele participam.


Marília Gonçalves

Decrescimento ou Barbárie !

Decrescimento ou Barbárie !

Entrevista especial com Serge Latouche


O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando”, avalia o economista francês Serge Latouche, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, a crise financeira e o caos ambiental instalados no planeta farão o capitalismo reencontrar “a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade”.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de conciliar crescimento econômico e sustentabilidade, ele é enfático: “Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião”.

Segundo ele, o PIB não pode mais crescer, e a “única possibilidade para escapar ao pauperismo” é “retornar aos elementos fundamentais do socialismo”.

Serge Latouche, além de economista, é sociólogo, antropólogo, professor de Ciências Econômicas na Universidade de Paris-Sul e presidente da Associação Linha do Horizonte. É doutor em Filosofia, pela Université de Lille III, e em Ciências Econômicas, pela Université de Paris, diplomado em Estudos Superiores em Ciências Políticas, pela Université de Paris, e diretor de pesquisas. Entre suas publicações, citamos, La déraison de la raison économique (Paris: Albin Michel, 2001), Justice sans limites – Le défi de l’éthique dans une économie mondialisée. (Paris: Fayard, 2003) e La pensée créative contre l’économie de l’absurde. (Paris: Parangon, 2003)

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que sentido o decrescimento pode ser uma alternativa ao caos financeiro, do meio ambiente e do atual modelo econômico?

Serge Latouche - Se proclamarmos que o crash financeiro desencadeado pelo abuso dos subprimes é uma boa coisa, então, embora ele seja o iniciador de uma crise bancária e econômica que corre o risco de ser longa, profunda e talvez mortal para o sistema, podemos ser taxados de provocação. No entanto, para os opositores do crescimento, esta crise constitui o sinal anunciador do fim de um pesadelo.


Não se trata, por certo, de negar que esta crise irá atingir com o desemprego milhões de pessoas e gerar sofrimentos para os deserdados do Norte e do Sul. Porém, e acima de tudo, o decrescimento escolhido não é o decrescimento sofrido. O projeto de uma sociedade de decrescimento é radicalmente diferente do crescimento negativo, aquele que agora já conhecemos. O primeiro é comparável a uma cura de austeridade empreendida voluntariamente para melhorar o próprio bem-estar, quando o hiperconsumo vem nos ameaçar pela obesidade. O segundo é a dieta forçada, podendo levar à morte pela fome. Nós o dissemos e repetimos bastantes vezes. Não há nada pior do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. Sabe-se que a simples desaceleração do crescimento mergulha nossas sociedades no descontrole, em razão do desemprego, do aumento do abismo que separa ricos e pobres, dos atentados ao poder de compra dos mais desprovidos e do abandono dos programas sociais, sanitários, educacionais, culturais e ambientais que asseguram um mínimo de qualidade de vida. Pode-se imaginar que enorme catástrofe pode originar uma taxa de crescimento negativo. Esta regressão social e civilizatória é precisamente o que nos espreita, se não mudarmos de trajetória.

IHU On-Line - Como manter o equilíbrio entre crescimento econômico e meio ambiente?

Serge Latouche - Impossível. É preciso renunciar ao crescimento enquanto paradigma ou religião.

IHU On-Line – Quais são os limites e as possibilidades de criar uma economia nova, mais sustentável? Quais seriam os seus princípios?

Serge Latouche - Hoje em dia, a festa acabou: já não há mais margens de manobra. A torta, isto é, o produto interno bruto, não pode mais crescer. Mais ainda (e nós o sabemos muito bem há longo tempo, embora nos recusemos a admiti-lo), a economia não deve crescer. A única possibilidade para escapar ao pauperismo, tanto no Norte como no Sul, é a de retornar aos elementos fundamentais do socialismo, mas sem esquecer, desta vez, a natureza: repartir o bolo de maneira equitativa. Ele era trinta a cinquenta vezes menor em 1848 e, no entanto Marx, mas também John Stuart Mill, já pensavam que o problema não era o volume da torta, mas sua injusta repartição! Como, crescendo, a torta se tornou cada vez mais tóxica – as taxas de crescimento da frustração, seguindo a fórmula de Ivan Illich, excedendo amplamente as da produção –, era inevitavelmente necessário modificar a receita. Inventamos, então, uma bela torta com produtos biológicos, de uma dimensão razoável para que nossos filhos e nossos netos pudessem continuar a produzi-la, e a compartilhamos equitativamente. As partes não serão talvez muito grandes para nos tornar obesos, mas a alegria estará no encontro marcado. Com outras palavras, ela nos oferece a oportunidade de construir uma sociedade ecossocialista e mais democrática. Tal é o programa do decrescimento, única receita para sair positiva e duradouramente da crise de civilização em que vivemos.

IHU On-Line - Como conciliar crescimento e decrescimento numa mesma sociedade?

Serge Latouche - Uma lógica de crescimento e um projeto de decrescimento são incompatíveis, mas o projeto de decrescimento visa fazer crescer a alegria de viver, restaurando a qualidade de vida (um ar mais sadio, água potável, menos estresse, mais lazer, relações sociais mais ricas etc.).

IHU On-Line - Alguns especialistas dizem que, com a crise internacional, a economia de muitos países irá desacelerar. Este processo poderá apresentar soluções concretas para o Planeta, ou, ao contrário, a desaceleração representa um processo negativo?

Serge Latouche - As duas opções são possíveis. Infelizmente, nem a crise econômica e financeira nem o fim do petróleo são necessariamente o fim do capitalismo, nem mesmo da sociedade de crescimento. O decrescimento só é viável numa “sociedade de decrescimento”, isto é, no quadro de um sistema que se situa sobre outra lógica. A alternativa é, por conseguinte, esta: decrescimento ou barbárie! Uma economia capitalista ainda poderia funcionar com uma grande escassez dos recursos naturais, um desregramento climático, o desmoronamento da biodiversidade etc. É a parte de verdade dos defensores do desenvolvimento durável, do crescimento verde e do capitalismo do imaterial. As empresas (pelo menos algumas) podem continuar a crescer, a ver sua cifra de negócios aumentar, bem como seus lucros, enquanto as fomes, as pandemias, as guerras exterminariam nove décimos da humanidade. Os recursos, sempre mais raros, aumentariam mais que proporcionalmente de valor. A rarefação do petróleo não prejudica, bem ao contrário, a saúde das firmas petroleiras. Se isso não vale da mesma forma para a pesca, existem substitutivos para o peixe, cujo preço não pode crescer na proporção de sua raridade. O consumo diminuirá em substância, enquanto seu valor continuará aumentando. O capitalismo reencontrará a lógica de suas origens, ou seja, crescer às custas da sociedade.

IHU On-Line - Qual é a marca socioecológica do Planeta? Já existe um déficit ecológico?

Serge Latouche - E como! Mais de 40%, segundo os últimos dados disponíveis. Nosso sobre-crescimento econômico se furta aos limites da finitude da biosfera. A capacidade regeneradora da Terra já não consegue mais seguir a demanda: o homem transforma os recursos em rejeitos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar esses rejeitos em novos recursos (1).

Se tomarmos como índice do “peso” ambiental de nosso modo de vida sua “pegada” ecológica em superfície terrestre ou espaço bioprodutivo necessário, obtém-se resultados insustentáveis, tanto do ponto de vista da equidade nos direitos de extração da natureza quanto do ponto de vista da capacidade de carga da biosfera. O espaço disponível sobre o planeta Terra é limitado. Ele representa 51 bilhões de hectares.

Todavia, o espaço “bioprodutivo”, ou seja, útil para a nossa reprodução, é apenas uma fração do total, ou seja, em torno de 12 bilhões de hectares (2). Dividido pela população mundial atual, isso dá aproximadamente 1,8 hectares por pessoa. Tomando em conta as necessidades de materiais e de energia, aqueles que são necessários para absorver dejetos e rejeitos da produção e do consumo (cada vez que queimamos um litro de essência, nós necessitamos de cinco metros quadrados de floresta durante um ano para absorver o CO2!) e acrescentando a isso o impacto do habitat e das infraestruturas necessárias, os pesquisadores que trabalham para o Instituto californiano “Redifining Progress” [Redefinindo o progresso] e para o World Wild Fund (WWF) calcularam que o espaço bioprodutivo consumido por pessoa da humanidade era de 2,2 hectares na média.

Os homens já deixaram, portanto, a vereda de um modo de civilização durável que necessitaria limitar-se a 1,8 hectares, admitindo que a população atual permaneça estável. Desde já vivemos, portanto, a crédito. Além disso, este empreendimento médio oculta muito grandes disparidades. Um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadense 7,2, um europeu 4,5, um francês 5,26, um italiano 3,8.

Mesmo havendo grandes diferenças no espaço bioprodutivo disponível em cada país, estamos bem longe da igualdade planetária. (2) Cada americano consome em média em torno de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80, um italiano 50 (ou seja, 137 kg por dia). Em outros termos, a humanidade já consome perto de 40% mais que a capacidade de regeneração da biosfera. Se todo o mundo vivesse como nós franceses, seriam necessários três planetas, e precisaríamos de seis para seguir nossos amigos americanos. Mesmo o Brasil já ultrapassa (em torno de 15%) a cifra sustentável.

Notas:

1.- WWF, Rapport planète vivant [Relatório planeta vivo] 2006, p. 2.


2.- Um hectare de pasto permanente, por exemplo, é considerado como equivalente a 0,48 ha de espaço bioprodutivo e, para uma zona de pesca, 0,36. Wackemagel, Mathis, O nosso planeta se está exaurindo. In: Economia e Ambiente. O desafio do terceiro milênio. EMI, Bolonha 2005. (Nota do entrevistado)


3.- Gianfranco Bologna (org.), Itália capaz de futuro. WWF-EMI, Bolonha, 2001, pp. 86-88. (Nota do entrevistado)