Pergunto-me, diante de nova guerra, se poesia e palavras servem causas, ou são elas mesmas, causas perdidas.
Odeio a guerra, a injustiça e o sofrimento dos povos. Acreditei que a palavra pudesse ser caminho. Vejo gente douta, defender a ideia da guerra: A Palavra faltou! A Palavra falhou! Nem a Poesia abranda o coração da guerra e o coração dos guerreiros.
Enquanto fábricas produzirem armas, veremos em vez de flores de primavera, florir flores de sangue, de vidas acabadas! E rasgo e despedaço o meu lirismo! dói-me a guerra, doem-me as bombas nos corpos inocentes. Trago em mim uma Paz inexistente em cada verso. Morre a Poesia em cada olhar que se extingue. Morre e esfacela-se-me a voz, perde-se no ouvido de quem ouve bombas a cair. Povos, sempre os povos, vítimas de todos os pretextos da cobiça e da maldade.
Falhou a Paz, A Palavra, A Poesia, na noite de crianças amedrontadas, essas em quem os detentores da força nunca pensam, sangra o meu coração. A noite chora em mim as lágrimas dos injusticiados.
No meu corpo ardem livros nunca lidos, bibliotecas desfeitas, evaporadas do mundo.
Doem-me as palavras que não disse, as palavras que nunca os lábios do espanto saberão pronunciar.
E chamamos a isto, a tanto horror e sofrimento, a civilização. Tanto saber inútil, quando se deixa às armas o poder de decisão!
E quanto olhar, parado sobre um pano de imagens, olha sem ver?
afinal, quem sou eu, quem somos? se calamos sempre o que cada dia dilaceram em nós?!
Marília Gonçalves