Desenho a ideia na palavra
desenho a palavra no papel
luz e sombra que desbrava
o ritmo da pele.
Marília Gonçalves
Desenho a ideia na palavra
desenho a palavra no papel
luz e sombra que desbrava
o ritmo da pele.
Marília Gonçalves
Aqui é o lugar
hoje é o tempo
futuro presente
que não passa.
Incógnita cidade
a navegar
em remoinho de luz.
Marília Gonçalves
é a ternura
que de baixinho
vem, e murmura
ou o caminho
a desbravar
a desventura?
é a ternura
este som leve
inesperado
instante breve
que por mim passa
predestinado?
é a ternura!
vinda de longe
desde a infância
que ao dia de hoje
vem dar sentido
luz e fragrância.
Era a ternura
estava escrita
dentro de mim.
Na noite escura
sê o meu sol até ao fim.
Marília Gonçalves
O mar na areia soava
quando a menina o olhou...
Não sei o som que entoava
quando a menina cantou.
O mar na areia rolava
quando a menina cantou
não sei que canção soava
no silêncio que a escutou.
O mar na areia espumava
quando a menina calou.
Não sei que som se ocultava
na voz do mar que rolou.
O mar na areia quebrava
menino sonho voou...
Sei que nunca mais voltava
à asa que se afundou.
Marília Gonçalves
Salto fronteiras de medo
vou à procura de mim.
Amanhece é ainda cedo
por entre o arvoredo
há uma história sem fim.
às mais altas serranias
ao oceano profundo
dei a força dos meus dias
mas nunca, nunca vencias
o que em mim trago do mundo.
Percorri grandes cidades
mesmo a mais pequena aldeia
no lodo colhi saudades
encontrei meias verdades
num charco da lua cheia.
Mas esta poldra bravia
que eu sou, quando quero ser
à leve aragem tremia
quando findava o dia
escondia-se para não ser.
Entre ramagens perdida
eu era também paisagem
na procura repetida
de quem tem fome da vida
e vê findar a viagem.
Marília Gonçalves
Dizer-te que te amo
ó terra ó céus ó infinito
não há espaço onde caiba
dimensão do meu grito
uma estrela implodiu
há tanto que ali estava
a iluminar o escuro
rendilhado de tons
a colorir a vida
mas quando em plena luz
ouviu meu grito
desfez-se em pó
a fecundar quanto tenho escrito.
Marília Gonçalves