
Chamar por ti Poesia! Poetas estro, musa, em defesa da cidade, pedir-te verve e força duradoira, que a batalha é de brio, de amor logrado, um grito na cidade obscura, aberta a desaires e esquecimento. Lisboa te chamaram, cidade que atravessou os tempos, épocas, a história, resistiu a cercos e à fome, viu investir suas muralhas, viu séculos de gesta, Restelos de advertência, poetas de faces veras, a soluççar à porta de tuas verdades; heróica foste resistindo. A voz de teus bardos te guiava, rumo a ti, à tua construção, quando nos ares se desfiava em luz, cidade rosa, cidade flor, amor cidade. Resististe, que afinal a força é resistir, e nas longas noites, as tertúlias eram ainda voz tua, a percorrer os bairros e os becos, nossa cidade de sede que o Tejo apazigua ou acomete, cidade de portos, de canoas que te levam no longe, à tua procura, cidade, de partidas e chegadas, quando chegas a ti? Muito haveria a dizer, pelos teus prédios, as tuas velhas casas (não estarei a recordar a Velha Casa desse grande génio da música em Portugal, que é António Vitorino de Almeida) e quem não tem uma velha casa a lembrar a infância, aqueles que a povoaram e não voltam mais? As tuas velhas casas, teus belos edifíícios, que o tempo afronta, como larva a desfazer-te na nossa lembrança; a paisagem humana vai-se perdendo, modifica-se até nela não nos reconhecermos, preservemos pois a voz das pedras que abrigaram nossos avós; guardemos a memória de seu esforçado viver, preservando a beleza das construções que nos deixaram, que nos dignificam e nos distinguem, de outras vivêências, de mérito, sem dúvida, mas nestas paredes que desabam estão inscritos os sonhos dos que nos precederam, está o nosso próprio reconhecimento cultural e regional, em suma o eco de tudo o que nos fez, e tantos poetas cantaram, Lisboa, reconhece-se pela paisagem, pelas colinas, pelo Tejo, mas tambm pela luz que doira as suas casas, porque as pessoas, de cidade em cidade, cada vez se parecem mais umas com as outras. Preservemos pois aquilo que nos diferencia e enriquece, o que não deve perder-se, o nosso Patrimóónio arquitectónico. E que a voz dos poetas nos guie e dê alento, para defender a história de uma magnifica cidade: LISBOA
Marília Gonçalves