
Olivais
Ai olivais de prantos ao luar
quando chão lembra neve a desfazer
rouxinóis estremecem a cantar
junto à fonte esquecidos de beber.
Acendem-se ao andar passos estranhos
memória de bailado em luz do dia
o branco casario tem o tamanho
de véus a esvoaçar na noite fria.
Eleva-se murmúrio universal
som de água a deslizar suavemente
mas água que é sangue vegetal
a enrolar-se em elos de serpente.
Há sonhos vegetais na noite branda
gritos de vida ainda por nascer
na seiva pressentida que se espanta
em braço circular de anoitecer.
Os olivais desenham o abraço
ameaça de sombra que não finda...
uma ogiva medonha cobre o espaço
na derradeira esperança que há ainda.
Marilia Gonçalves