Roseira do meu amor
a vida foge
deixa saudade
do tempo ido
solitário hoje
consciente do valor vivido.
Efémera passagem
juventude
a contemplar água parada
espelho antigo
a vida que se esfuma
só em nossa saudade
encontra abrigo.
Roseira do meu amor
oh roseiral dorido
esmaeceste na cor
mesmo minha dor
é um jardim perdido.
Roseira do tempo que sentia
sem saber sentir
a vida entre riso me fugia
eu, sempre a mesma a rir.
Roseira dos espinhos que hoje tenho
a flor da dúvida tem igual tamanho
ao d’alegre inocência
doutro dia.
Roseira rubra roseira brava
cada dia em minh’alma vem e grava
agreste mundo que adivinho
fui eu, a menina, a sonhadora,
enquanto a olhar oiço agora
o eco tão distante
que só de interpretá-lo-me parece
ter no seio cavalo que alvorece
entre espinhos rubros que tu és
minha antiga roseira abandonada
para alem desta dor nao és mais nada
senão a flor inerte aos próprios pés.
Marília Gonçalves