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“Já cá não está quem falou”
de Manuel Madeira
Lançamento na terça-feira, 15 de maio, em Paris às 19 horas
iativo, corredator da revista “Latitudes-
Cahiers lusophones” e poeta,
com três livros já publicados - “Les
mois chauds”, “Saudades não pagam
dívidas” e “Perturbations” - lança o
seu novo livro de poemas, intitulado
“Já cá não está quem falou”, na
próxima terça-feira, dia 15 de maio,
às 19h00, no Pocoulet, 59 rue de la
Fontaine au Roi, em Paris 11.
Reproduzimos mais abaixo largas passagens
do prefácio redigido por Didier
Paquette.
Esta é a história dum trânsfuga que
não quis continuar “a perder o seu
tempo a uivar às portas do passado,
na louca ilusão de aí decifrar os indícios
do seu destino” e que desistiu de
acompanhar “os honrados jardineiros
do poente”. Manuel Madeira subverteu
um destino ancorado no trauma
duma ascendência (individual e histórica)
para abraçar as palavras da rebelião
íntima, extraída da não
consciência de si mesmo.
Entre as palavras da sedimentação do
tempo e as palavras ritmadas pelo eco
do corpo, o percurso de Manuel Madeira
declina-se através de invetivas
onde a denuncia dos sonhos atrozes
da beata razão revelam, pouco a
pouco, uma capacidade abismal, propriamente
poética nos “recantos do
labirinto do prazer e do gozo”. Claro,
hoje já não é possível esquecer o sentimento
trágico da História, cujas modulações
passam pelas obrigações
servis dum quotidiano enfadonho inteiramente
subjugado pelo horror dum
Mundo Consumista.
A vinculação da fibra poética reclama
uma exaltação das forças, uma componente
tensa entre pulsão e linguagem.
Sente-se a presença
nietzscheiana escondida por detrás do
percurso do militante político dos
“Mois Chauds”. À superfície da farsa
social aparece discretamente o nariz
do erotismo, “o ruído das asas no
sótão das sensações eróticas”. O
canto da energia convoca de imediato
a música de Bartok ou um quadro de
Chagal, para nos lembrar que a verdade
nunca está atrás de nós, sem
portanto se impor na linguagem. Noutros
termos, trata-se de “voltar ao
tempo fixo da infância para recomeçar
a sonhar no tempo cósmico”. O reino
do presente permanente dissuade de
tentar saber se a obra de Manuel Madeira
pertence à era lusitanista ou a
francófona.
A questão central da criação de simesmo
é a do trânsfuga para além do
formalismo estreito das compartimentações
decorrentes da História. Esta
situa-se entre o silêncio e a linguagem.
Os trânsitos no espaço do
mundo (Manuel Madeira fez estadias
na Inglaterra, na Polónia, viveu muitos
anos em França, regressou a Portugal)
são portadores de ventos do acaso e
não afirmam nenhuma preponderância
sobre o imprevisto. O desafio desta
recolha de poemas em português tem
como fundamento uma beleza mistificada
que assenta na apologia do enraizamento.
É um desafio
transfronteiriço como o percurso de
Manuel Madeira, ora cineasta, ora
ator, formador, júri de concursos... e
poeta.
A apresentação é organizada pela associação
L’Oeil Etranger, com declamação
de poemas de Marília
Gonçalves e Cristina Semblano.