Poema feito a meu pai e dito por mim, em Homenagem a Álvaro Morna, Jornalista e escritor, veio ter comigo, após ter-me ouvido dizer o Poema Avenida, para conversarmos, na residência André Gouveia, Casa de Portugal em Paris, na Cidade Universitária. Álvaro Morna, era Jornalista da Radio France Internacional, Jornalista do Diário de Noticias e Correspondente da Lusa em Paris. Segui-se o Convite para Entrevista minha, na Radio France Internacional, feita por ele e por Elisa Drago.
Testamento
Lança as cinzas ao mar
ao Oceano
não nos fechem em mar
que tem fronteiras
nós queremos viajar
livres as cinzas
por nossas vidas
dantes prisioneiras.
Lança ao mar o sonho a percorrer
nós iremos espraiar em Portugal
nossas cinzas no mar, ainda a arder
hão-de voltar à praia de outro sal.
Sabem a lágrimas as cinzas em viagem
mas o sonho é sempre verdadeiro
se no exílio a voz foi de coragem
será heroico voltar ao chão primeiro.
Lança no Atlântico o que resta
da força que nós fomos, mas vencida
verás reflorir como giesta
em festões d’oiro a água conseguida.
Iremos semear o mar imenso
a esperança de não ter partido ainda
importante afinal é o começo
da sementeira agora pressentida.
Deixa ir sobre as águas azuis, verdes
a nossa fundura vertical
porque na água estão as nossas sedes
de nunca ter deixado Portugal.
Se história se escreveu no que passou
nas cinzas nosso corpo está presente
mar da Liberdade nos levou
no caminho sem fim da lusa gente.
Que as cinzas vão ardendo sobre o mar
em derradeiro grito à Liberdade
pois nós seremos livres de voltar
pela força do tempo e da vontade.
E se nossa viagem se prolonga
a abraçar países infinitos
há-de chegar o dia em que se alonga
a saudade da terra dos proscritos.
Voltaremos então a Viriato
à Pátria Lusa, em bandeiras de sol
o vento gravará nosso retrato
na leve luz da tarde, ao arrebol
seremos outra vez, voz portuguesa
a vir poisar numa canção sem fim
na noite ardente de cada rouxinol
nossas cinzas serão mais um jardim.
Marilia Gonçalves
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