Afastou-se a margem da memória
o pó cobriu a estrada
no esconderijo da história
há dias feitos de nada.
Foi-se construindo o tempo
passou não torna a ser
num torvelinho de vento
folha fui, voei sem querer.
Levou-me sopro potente
quase uma força animal
até ao sonho dormente
que não era natural.
Há nós olhos que nós fitam
espuma d’ódio de rancor
que as palavras acreditam
ser pranto, lágrimas, dor.
Atropelaste a paisagem
do pouco que me foi dado
minh’alma parte em viagem
não torna ao dia passado.
Feriste! Voluntariamente.
Sofro a inventar perdão.
Sabes nem sempre a semente
cresce em sua própria mão.
Escalei muralhas a custo
trepei a escola da vida
tremo de ânsia de susto
por ser justa e ofendida.
Digna até à minha morte
até à hora final
se não sou mais, nem mais forte
há na voz de Portugal
essa voz que foi ouvida
potente no céu de anil
a minha infância perdida
entre sei lá quantas mil!
Se uma armadilha me lanças
eu peço ao teu coração
justiça para as crianças
que no caminho do pão,
no grito da Liberdade
nascido na Revolução
deram vida pela verdade
fazendo ouvir o seu não.
Marília Gonçalves
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