Ali por trás de paredes de sombra
O pensar procura caminho, libertário
Uma frincha de luz, ou movimento
Contrário à estática treva,
Prisioneira de paredes sem casa
Que nem chegam a ninho,
Apenas fortalezas que se erguem
Fantasmas no caminho
Ali onde paredes se levantam
Em eco de silêncio
Os pássaros espantam
Os nossos pensamentos.
Ali moram nuvens e neblina
Ali se abriga a bruma
a envolver verde colina
Só de coisa nenhuma.
Atrás das paredes vai soando
Uma voz que rasteja
A conseguir o bando
De palavra que adeja.
Aí então esmorecem as paredes
Deixa a sombra de ser
A constante das sedes
Do nosso verbo haver.
A luz semeia promessa crescente
De sol imorredoiro
E as paredes caem bruscamente
E abre-se o céu d'oiro.
Apaga-se no longe a ameaça
Do mutismo constante
Enquanto por nós passa
A palavra levante.
Fluem ribeiras de sons
Alegres a saltar
Catadupa de tons
A percorrer o ar.
Alastram palavras coloridas
Invadem a planura
Sementeira de vidas
A trepar à altura.
Das paredes fica só a lembrança
Da nossa negação
Salvaguarda da história
Sem ter repetição.
Marília Gonçalves
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