Paisagem tua
Que tempestade mora dentro de ti
que nem sabes reconhecer o dia
de sol
o que sabes das ondas
que há no mar do rochedo
dos areais dum barco
que sabes das mulheres que esperam
o pescador que partiu
ou da que viu partir para a guerra
o que foi sim
mas sem querer ir
Sabes sim sabes
sabes sem saber
ao de leve
mas por dentro de ti ignoras
conheces paisagens, sabes
o que é o luar sabes falar deles
sabes deram-te prazer
mas nunca te preocupaste
com eles nunca acrescentaste
uma nota ao canto duma ave
recebeste a ave cantava
tu ouviste cantar
embriagaste-te em seu canto
mas não criaste nada
nada fizeste para o cantar da ave
ser mais belo
as árvores eram frondosas
saboreaste a sua sombra
mas não alteraste nada do que estava
aproveitaste sempre
usufruíste integraste a paisagem
ou simplesmente a aproveitaste
ma nada lhe deste de concreto
não a regaste com teu pranto
não lhe deste um esforço
um soluço
nem lhe deste teu espanto
quando te voltas para trás
é de ti que tens saudade
mas nunca lembras
o que não fizeste
gesto esquecido
que não chegou a ser
e que hoje teimosamente
na tua cegueira constante
continuas a ignorar
a desrespeitar.
Marília Gonçalves
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