Anda meu amor, pelo caminho adentro
repara na terra, rasgou-a o arado
mais longe os outeiros. Vê bem o do centro
tem um prado d’oiro que apascenta gado.
Deixa que teus olhos vão seguindo os meus
mais alem distante à loira ladeira...
de tanto que sobe, quase entra pelos céus
mas fresco o pinhal, trava-a na canseira.
Estes torrões soltos do chão que pisamos
firmes e bravios são a voz da mágoa
gritos torturados da terra que amamos
toda incendiada sem ter gota d’água.
Olha ao lado esquerdo, a casita alva
parece dormir, beijada pelo sol!
Diz não te embriaga este cheiro a malva
junto ao pó torrado, muito mais que álcool?
Dá-me tua mão, vamos pelos caminhos
conheço-os de cor, meus passos d’infância.
Calaram-se aves de calor nos ninhos
do berço até hoje que curta distância!
Os cães ofegantes, dormitam calados
o ar ondulante dança à nossa frente
as amoras ardem por entre os silvados
nem a sombra é fresca, mesmo a casa é quente.
Como o tempo muda a feição às coisas!
Nas manhãs de maio há relvas veludo
pelas tardes de Agosto, quando olhos poisas
por ervas vês palha, o ar queima tudo.
Vou mostrar-te o poço, verás como é fundo
olha para baixo, a água tão negra...
tem nela a frescura toda que há no mundo
de vê-la, em sorriso teu olhar se alegra.
Queres sentar pertinho, rente à oliveira?
Descansa em meus braços, meu colo é o teu...
aqui mesmo ao lado o milho na eira
são sois pequeninos que o sol acendeu!
Vês? O céu azul está branco doirado
tanta luz se espalha sobre o horizonte...
nossos lábios presos, olhar abraçado
desfolham desejos a rir pelo monte.
M.G.
Deixa-me ser
verdura em tua estrada
caminho aberto
vida! mulher!
Que se o deserto te aprisionar
dar-te-ei a mão
serei a força pra te soltar.
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