A Natália era minha colega de liceu. Admirava-a
porque era excelente desenhadora.
A Natália era menina de família distante e era tal como as irmãs
educada pelos padrinhos. Era calma, tranquila.
Mas quando desenhava transfigurava-se para ter alegre riso comunicativo.
Nunca mais soube nada dela.
Recordações entre as melhores da época. Amizade entre duas crianças
em que uma falava de desenho a outra de poesia. Amizade diferente
num estranho respeito que sentíamos uma pela outra. recordações da Amadora,
do externato Alexandre Herculano, tantos anos depois.
Saudade no tempo ou de mim.
Abrem-se janelas nos meus olhos
sucedem ao dia azul de outrora
entre cores tão luminosas
perdidas no tempo até agora.
Janelas cor da vida minha intensa
esvaídas na luz aberta em mim
sons plangentes, força adolescência
janelas e janelas sem ter fim.
Janelas que me trazem ao passado
passado que hoje sou
janelas desse tempo descuidado
janelas a abrir-se pró futuro.
Janelas de acalmia, não ainda
a vida corre célere palpita
há em mim vendavais de vida
a abrir mais janelas coloridas.
Marília Gonçalves

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