Vim por caminhos estranhos
uma sombra que me assusta
desliza entre rebanhos
na noite estival adusta.
Uma árvore secular
estende braços escurecidos...
ao longe o mocho a piar
mais perto ouvem-se balidos,
além, água a saltitar...
Prossigo no meu caminho
a tactea-lo co’o pé
se cair no ribeirinho
nunca mais ninguém me vê!
Contam... que há nesse fio d’àgua
aquático castelo
todo de renda e de mágoa...
mas quem se aproxime a vê-lo
não volta ao mundo concreto
não vê mais a luz do dia...
no esconderijo secreto
pra sempre desaparecia.
Há nesse estranho castelo
de beleza sem igual
seres de forma tão irreal...
não são homens nem mulheres
téem corpo musical.
Fazem do brilho diurno
todo o esplendor que os enleva
há no ribeiro nocturno
luz do sol rasgando a treva.
Todos fogem à beleza
por saber não voltar mais
mesmo sabendo que eleva
ao cume dos ideais.
Vou andando devagar
a casa afasta-se ao longe
tenho pressa de chegar
na paisagem que me foge!
De repente solto um grito...
navio quebrando as amarras
fazendo ouvir um apito...
ao longe ralos cigarras.
Acordo subitamente
estou deitada no meu leito
sopro angustiadamente:
foge-me a garra do peito.
Estou na minha velha casa
nem dela tinha saído.
Foi o sonho o golpe de asa
a levar-me ao não vivido.
Marilia Gonçalves
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