Somos gente ou não somos gente? Temos famílias, filhos, pais idosos, ou que para la caminham. Temos paisagens na memoria da nossa infância, temos recordação das revoltas que nos faziam insurgir, contra quem nos injusticiasse? Lembram? como era generosa a vossa juventude!
Lembram-se do amor, da alegria, dos caminhos que percorriam, entre garotos, as tardinhas a saltar ao eixo, a trepar árvores e muros, os vossos velhos jogos de polícias e ladrões, de contrabandistas, de cabra-cega, da apanhada, das escondidas? tanto jogo, no entusiasmo da vossa tenra idade. Quando a voz da mãe, num aceno sonoro, vos chamava à casa, par os deveres escolares, que antecediam a janta. Como era difícil, deixar o oiro dos caminhos, quando a luz poente a tudo se agarrava como um riso bom, onde se inscrevia o vosso próprio riso e o vossos sonhos de galopadas, num pau de vassoura ou num velho ramo, que por mágico vos levava em grandes cavalgadas pelos céus.
Pois nessas lembranças, que deixaram adormecer de mansinho dentro de vós, está o vosso amor menino por Portugal!
Esquecer tudo isso, que foi a vossa alegria inocente, é esquecer o melhor que vos alegrou os dias e é esquecer os caminhos de luz de Portugal. Lembram-se dos jogos proibidos? de armar aos pássaros, com as ratoeiras e formigas de asa? quantas vezes esses pardalitos perdidos eram o prato do jantar depois dum caldo? e a vossa ingénua inocência, as vossas faltas, anta vez, eram a vossa maior desculpa? outros tempos, em que se não falava de ecologia e em que a prioridade matar a fome, ou pelo menos o direito de qualquer criança a provar algo que saísse do costume e lhe soubesse bem. Enquanto em fartas mesas, abundavam os assados ou os bifes, esses pardais de vosso labor e manha, eram magros, pequenos e recheados de ossos, mas apesar de tudo isso, sabiam bem...
Essas foram páginas de vossa infância, paginas de Portugal, desse pais que é o vosso e que urge despertar dentro de vós, com toda essa carga de emoções, de amor e carinho. Porque se Portugal acordar dentro do que há de menino em cada um, Portugal está salvo! Porque nunca mais, nenhum de vós o deixará humilhar nem ultrajar.
Salvem a criança que dormita em vós: Sigam de mao dada com a criança que fostes! Salvem Portugal!
Marília Gonçalves
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