Cansou-me o fingimento
o mundo da aparência
que vai do pensamento
à existência.
O mundo a fingir que é
por instantes, num segundo
vem estatelar-se ao sopé
do estrume que traz no fundo.
Cansam-me falsas maneiras
sorrisos de ocasião
a vir espreitar às ombreiras
do meu rubro coração.
Até fazedores de versos
vêm morder poesia
sem descobrir o avesso
da noite que faz o dia
que traz nele seu reverso.
Até aqueles que bebem
o sangue da alvorada
esquecidos do que a si devem
fazem versos e mais nada.
Não vão além da distância
não se elevam na lonjura
e nem chegam à infância
da verdadeira procura.
Receiam as palavras
compõem frases a custo
e escrevem com a voz cava
A tremelicar de susto.
Mas o voo de ousadia
esse vai ficando aquém
da fome da poesia
que está no ventre da mãe.
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