Desse desprezo
geral por quem é pobre
Maior que a indiferença mais dorida
É toda esta tristeza que me encobre
Dos olhos de quem sou desaparecida
Tornei-me um
ser volátil que evapora
de si a cada
instante a alegria
Eu que era a gargalhada tão presente
Eu que era água
aragem luz do
dia
Hoje sigo
caminho e não sou eu
No que eu tinha de vívido
e vibrante
Dentro de mim o dia anoiteceu
Sigo vagando
mas outra caminhante.
Não é ser
pobrezinha que me ofende
Porque a nuvem
que passa é também minha
É minha a floresta que me prende
Ao som de cada voo de andorinha.
É meu cada caminho
cada estrada
O fio de água que cai e tudo encanta
Cada trilho de luz cada
alvorada
Solta da ode de límpida garganta.
Como posso ser pobre se meus versos
São fruto deste puro encantamento
De descobrir no pó os universos
Que me desenham cada pensamento.
Mas a consternação,
que nunca passa
Ao contrário do vento esvaecido
Vinda de ti constante em ameaça
Porque veres do que não sou meu eu banido.
Marília Gonçalves
Sem comentários:
Enviar um comentário