Oh mãe, que desgosto!
Nunca compreendeste o porquê de não te deixarmos ir para tua casa; mas vieste para a minha, porque os bombeiros a meu pedido, foram a tua casa, porque não me respondias ao telefone. Subiram pela escada deles e rebentaram a tua janela, encontraram-te estendida no chão, sem sentidos. Levaram-te para o hospital.
O meu irmão, veio a França e juntos fomos falar com o médico chefe do serviço em que te encontravas e ouvimos dele, que nunca mais poderias viver sozinha na tua casa.
Todos sabíamos que preferias ter ido para casa de meu irmão, mas por diversas razões; isso não era possível, entre elas a vida profissional do meu mano. Professor Universitário, com conferências no estrangeiro tornavam só por si, essa preferência impossível. Depois seguiram-se tempos dolorosos, para ti e para mim. Zangada comigo, indiferente a quanto te dissesse. Acabaste por vir de ambulância para casa da Cláudia, aqui no sul da França, onde meses depois tiveste o AVC Vim de imediato para o sul, mas tinhas sido levada pelos serviços de socorro aos doentes, para o hospital. Davam-te dois dias de vida. Mas talvez por teu amor à vida, viveste mais dois meses.
Talvez tenhas partido zangada comigo, sabias fazer isso bem.Nunca
mais voltei a minha casa. Mas procedi de acordo com a minha consciência e sempre com o acordo do teu filho idolatrado. Fiquei mais triste mais vazia, mas Mãe, neste caso, prefiro mil vezes que te sentisses zangada comigo, a ser eu a estar zangada comigo. Desde os meus doze anos, trabalhei, fui humilhada, para te poder ajudar, o que não te mereceu, nem gratidão, nem mais carinho. E nunca desisti, consciente que o meu amor por ti, guiava meus passos. sendo o meu trabalho infantil, consequência da prisão política de meu pai! só eles foram culpados da minha vida menina sacrificada, eles salazar e PIDE. Em 1958 era o monstro do salazar e os seus demoníacos esbirros. Por isso a minha vida foi sempre difícil, tu nisso comparavas-me ao Edmundo Dantès, sempre em casa e sempre a estudar. Mas sem diplomas a Cultura que adquiri, nunca me deu pão. um beijo mãe um profundo e terno beijo, tão sentido como a minha dor.
Marilia Gonçalves Pimenta Gonçalves
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