Já não sei escrever cartas de amor
Jacques,
já não sei escrever cartas
de amor,
eterna morada,
agora afago a saudade
nas memórias que guardo
trancadas,
desato nós do passado
em todos os caminhos
por onde vagueio.
Paris é tão longe e frio
as pontes do Sena
despediram-se de mim,
Montmartre ficou cinzento
e as escadas tão íngremes,
em S. Denis ruiu a nossa mansarda,
dizem-me que já não há beijos
e os jovens não passeiam
de mão dada,
os slogans são outros,
"exigir o impossível " foi apagado,
" parem o mundo, eu quero descer"
continua a ser tão verdadeiro.
Já não sei escrever cartas
de amor,
já não vendo poemas nas ruas,
já não escuto Brassens ou Brel,
por vezes não resisto e lá vem
Moustaki " avec sa gueule de métèque ",
( eras tão parecido com ele!)
e sem que o deseje uma lágrima
azul como o nosso Tejo
humedece-me os olhos claros
onde dizias navegar.
Já não sei escrever cartas
de amor,
mas escrevo sempre o teu nome.
Teresa Veludo
O Meu Rio sem Margens
(Direitos reservados)
Chagall


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