Escrevo com a mão esquerda
I
A alquimia das palavras
metáforas transmutadas em versos,
dores, desgostos e amantes
secando a sede noturna das fontes,
fazendo dos rios oceanos brancos.
Poetas vagueando na antítese da luz,
sombras que só eles conhecem,
mistérios, poções mágicas, tragédias,
procura de suicidas ruas esconsas
onde derramam poemas e loucura.
II
Escrevo com a mão esquerda,
as palavras saiem enviesadas,
descanso o olhar longe no vazio,
o desassossego adormece
nas margens ténues da tarde,
um leve trinado de ave perdida,
súplica num acorde de guitarra.
III
Um livro passeia pela estante,
tropeça, cai num tombo suicida,
uma página em branco que se abre,
alguém se esqueceu de uma carta,
meu amor sem remetente ou destinatário,
apenas um breve sonho inventado,
uma miragem que se desvanece
na dureza cruel das pedras da calçada.
IV
Anoitece nas ruas do meu bairro,
quanta solidão se vê agora trancada,
só as árvores se agitam no vento que passa
só os gatos vadios atravessam a estrada,
só eu por trás da vidraça deixo cair uma lágrima
sem saber porque choro assim tão sem jeito.
Meu amor talvez um dia saiba a tua morada.
Teresa Veludo
O Meu Rio sem Margens
(Direitos reservados)
Dali, Munch



Sem comentários:
Enviar um comentário