Ali
nas vinhas sobredos
vales
socalcos searas
serras
atalhos veredas
lezírias
e praias claras
vivia
um povo tão pobre
que
partia para a guerra
para
encher quem estava podre
de
comer a sua terra.
Um
povo que era levado
para
Angola nos porões
um
povo que era tratado
como
a arma dos patrões
um
povo que era obrigado
a
matar por suas mãos
sem
saber que um bom soldado
nunca
fere os seus irmãos.
Ora
passou-se porém
que
dentro de um povo escravo
alguém
que lhe queria bem
um
dia plantou um cravo.
Era a
semente da esperança
feita
de força e vontade
era
ainda uma criança
mas
já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
(...)
Excertos de
“As Portas que Abril Abriu” - Poema de José Carlos Ary dos Santos
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