aos Capitães de Abril
Companheiros Pedro Lauret e Andrade da Silva
porque partilhamos o mesmo amor pelo mar e a Ria é um mar “de brinquedo” para quem a conhece e a respeita...
senão... zanga-se.
A Ria Companheiros
é uma menina
de jogos inocentes
quando é ela quem ama
mas quando nela entra
intimorato
o olhar que a não vê
da magia dos fundos se levantam
medos antigos
tranças de algas, perigos
invisível corrente
que o triste absorto
sorvido de repente
é levado ao magico palácio
donde não volta mais
é um palácio de cristal
facetado a pó de diamante
se alguém o olha
pensa ver a aurora
a esfolhar suas rosas
Ria esmeralda e nácar
de nereidas tão formosas
desse estranho brilhar
onde dilui
a prata e o próprio sol
que nela alui
cada corrente tem os seus segredos
a Ria de múltiplos enredos
estende seus braços de águas e brim
e leva cada incauto ao seu confim.
mas por sua beleza
em movimento
há quem a siga
para além do vento
ouvindo velhos cantos de sereia
a espraiar entre espumas
na areia.
Marília Gonçalves
Este outro poema que segue disse-o num Encontro de Poetas em Faro ainda eram vivos os meus estimados Tóssan, poeta, declamador e desenhador e o Dr Joaquim Magalhães (ambos gostavam muito deste poema à Ria)
o "secretário" do poeta Aleixo, uma pessoa duma bondade e duma simplicidade que só visto
o Tóssan e a Manuela, a esposa assim como mais família foram grandes amigos
O Tóssan era "maroto",brincalhão, mas era uma pessoa muito terna apesar da doença, corajoso chegou a ir a um dos nossos Encontros de Poetas de Ambulância. Além de ser um grande desenhador. Quem não se lembra do retrato do Aleixo feito pelo Tóssan? aqui em casa tenho guardados desenhos originais dele, feitos em toalha de restaurante, mas onde consta a sua assinatura. Desenhos que fazia para a Nádia a minha filha mais nova. O engraçado eram as malandrices que pregava à minha avó materna e à irmã, deixava as duas mortas de riso, já idosas e pouco habituados a brincadeiras do tipo.
Num dos últimos Encontros em que estive presente, estava o Dr. Emílio Campos Coroa, que durante o fascismo foi um magnífico Resistente através da Cultura e da Arte e da grande generosidade com que acolhia em sua casa, o mudo da Cultura e do Teatro que durante tantos anos dirigiu.
Eu fazia parte nessa altura da Direcção do circulo Cultural do Algarve(*) numa noite, depois duma reunião, fomos, meu marido e eu, com o Gilberto a casa do Dr. Coroa: móveis, mesas, mesinhas, por todo o lado havia livros e discos e pelos cantos, jovens, artistas, tudo com livros na mão, lendo discutindo, conversando.
Há vultos que nunca se esquecem. Num encontro de Poetas o Dr Coroa, veio em braços, estávamos em 85, fazer a sua vénia de despedida aos poetas. E nos éramos os devedores, pela vida cultural que desenvolveu em Faro em pleno fascismo.
Todos de pé o aplaudimos, viveu mais uns quantos dias, e mais uma vez fiquei persuadida que o aplauso é a maior recompensa do Artista, aplauso é o fermento que faz levedar o talento! porque o olhar que trocámos naquele momento nunca o esquecerei.
E porque ali na sua casa se respirava a Cultura, que todos desejávamos pra todo um povo tão carenciado dela e do ambiente que a envolvia, de espíritos abertos, e corações generosos.
O dr Coroa era um Vulto, anos antes tinha tido um acidente de carro, vidros enterram-se num olho, foi para o consultório , onde ele próprio se anestesiou e ali se operou a si mesmo frente ao espelho sem mais aquelas.
Tínhamos ido nessa noite, di înicio de 74?com o Gilberto da TAP. Outro vulto da Cultura, ele ali estava de coração puro, em cada representação em cada espectáculo em cada manifestação cultural ou recreativa. O Gilberto já não está entre nós, pertencia a uma espécie em vias de extinção, e extinguiu-se, talvez tenha ido assistir a alguma inevitável representação... talvez a sua definitiva despedida do grande Palco da vida, onde foi tão inteiro, tao sincero, tao amigo!
mas todos estes nomes, se seres que jà partiram, enquanto, amigos, forem vivos, permanecerão entre nós.
O Gilberto era um puro! chegou a organizar concursos na praia de Faro com
as crianças, as da praia e as que estavam em férias. Tinha para isso feito um quadro, onde tinha marcado os prémios e o que era preciso para os ganhar.
Cada criança que trouxesse um vidro apanhado no areal ou um prego ou qualquer objecto que pudesse ferir alguém ou que sujasse a praia, tinha um determinado numero de pontos de acordo com o estabelecido no tal quadro
ao fim de x pontos ganhavam ou um gelado ou um chocolate ou um livro e por aí fora
quando olho para trás, surpreendo-me com o coração mais doce, apesar da pena de nunca mais os ver, mas penso que tive muita sorte em os ter conhecido e que no fundo passámos excelentes momentos na companhia uns dos outros. Infelizmente a minha vinda para França encurtou esses momentos que nos eram tão agradáveis. Mas assim é, nós andamos em permanência a correr atrás de Vida.
Mas penso que estas cenas da vida se saboreiam melhor, em cidades não muito grandes, onde as pessoas se conhecem melhor,o que era o caso de Faro na época.
E porque a Amizade é um sentimento forte e que nos ajuda em cada dia da nossa vida, vos envio estas fotos de Faro, acumuladas no computador e companheiro Andrade e Silva uma é a "lua sobre o mar"!
Vamos a sorrir, porque o sorriso faz germinar a nossa boa disposição e com ela quanto há de construtivo!
(*) -disse-se quando se deu o 25 de Abril, melhor, quando vocês meus queridos Capitães, no-lo deram, a direcção do Círculo Cultural do Algarve ia ser presa, segundo parece, tinha havido uma denúncia contra nós, em como éramos comunistas e a direcção do circulo uma célula disfarçada. O que era mentira, depois do 25 de Abril quando tudo se clarificou, na direcção do circulo estavam representadas todas as posições politicas de esquerda e extrema esquerda.
Desde socialistas ao MRPP estava lá tudo. Mas anteriormente todos nos sabíamos antifascistas mas sem ir mais longe. O que provavelmente ocasionou essa denúncia, foi que tínhamos organizado duas conferências, uma sobre a Liberdade de imprensa com o Dr Raul Rego, e outra sobre a socialização da medicina com o PR Dr Miller Guerra onde esteve presente também Dr Galhordas que tomou a palavra por sua vez. Verdade seja dita que era tentar o diabo!
Mas foi Abril! e nada de mau nos aconteceu (isto foi apenas o que constou).
Desfaz-se o luar na Ria
em fios de prata a boiar
mil estrelas a naufragar
quando chega o fim do dia.
Nessa pálida harmonia
bailados da luz poente
cintilam suavemente.
Murmúrios d'água, segredos
falas antigas e medos
vogam também na corrente.
Marília Gonçalves
Tóssan, António dos Santos, artista gráfico, caricaturista, desenhador e actor e declamador de muitas actuações antes do 25 de Abril, dizendo poemas que veladamente (como não podia deixar de ser) combatiam o fascismo.
JOAQUIM MAGALHÃES . É uma responsabilidade muito grande para mim fazer uma homenagem ao GRANDE HOMEM QUE FOI JOAQUIM MAGALHÃES! Marcou profundamente todos aqueles que tiveram a felicidade de privar com ele, alunos ou não,e que puderam avaliar o "Grande Coração do Dr. Joaquim Magalhães!" Intituláva-se a ele próprio "o beirão mais algarvio de todos os tempos!" Marcou várias gerações e o Algarve muito lhe ficou a dever! Se a "descoberta" de António Aleixo foi a acção mais conhecida, muitas outras, nos mais variados campos, levou a efeito, ficando imortalizado para os farenses e algarvios! Até sempre, Dr. Magalhães! Na foto com Zé Louro no final do "Barcaré"!
Zé Louro, outro amigo que é um Vulto de Faro criou o "Autocarro do Teatro" no Algarve e dirige o Teatro Municipal de Faro, encenador, declamador; actor.
Dr Coroa
Sem comentários:
Enviar um comentário