O sol pintava os vidros da janela
em tintas de oiro
e arpas de marfim
desferiam o tesouro
desse primeiro amor
que trago em mim,
Mãe, noutro Outono poente
eu lia para ti
mas passou todo um ano
quando então revi
as primaveras, as flores
o nosso riso
e gargalhadas de meu pai
atravessando os montes
dos olhares joviais
a juventude, ali fazia ninho
e nos parecia eterna
o colorir dos montes
falavam-nos do canto
das encantadas fontes,
Oh mãe, quanta água cintilante
cantava para nós
pelo Abril distante
cantando em nossa voz,
A Primavera nos Campos
Opera de tua lavra
vinha dos doces montes
entrava-nos em casa
e as aves cantavam
no teu cantar que jovem
ficou em tua voz
e ainda há dias
na tua voz jovial
cintilavam as fontes
dos nossos velhos montes
Mas adormece mãe
dorme serena
que a menina pequena
que sabia rir
desfaz a cantar
a dura pena
por saber-te a partir
e se acaso o olhar de meu pai
vier espraiar o teu
diz-lhe nessa ternura
que foi o nosso lar
para sempre perdura
todo o vosso sentir
todo o vosso pensar,
Semeastes em nós
aquele eterno Abril
que floresce no pão
e meu irmão e eu
em acesa consciência
saberemos pra sempre repartir
o pão da nossa mesa,
Marília Gonçalves
Sem comentários:
Enviar um comentário