ACUSAR
Sinto na hora que chega
a negra deusa que vem
com força se me apega
num sono que sabe bem.
Sinto-a envolver-me nos braços
cadavéricos gelados
apertando mais os laços
que estes que só vi quebrados.
Apertando-os de tal jeito
de tal forma, com paixão
que sinto gelar-me o peito
preso já na sua mão.
Hoje na despedida
sem ninguém que me socorra
digo adeus à minha vida
como a rio que à pressa corra
e ninguém pode deter
ou tem força pra travar...
a água tem de correr
depois do dique estoirar.
Por isso na minha voz
a seguir-me sempre honesta
deste crime, acuso, vós
a viver de sangue, festa.
Vós a viver de mentiras
a viver de falsidade
a ti que o amor me tiras
a ti pelas tuas vaidades.
A ti pelo pão que roubaste,
pelo livro que nunca li...
que em pequena mo fechaste
a ti, a ti, a ti!
Com consciência como eu
que atropelada também
só odiei quem mordeu
sem mal querer a mais ninguém.
Nesta minha acusação
feita à nossa sociedade
possam encontrar lição
detendo-vos na maldade...
evite a outros como eu
dor e rasgões sem ter par...
pensa, podes hesitar...
O mundo não é só teu
A vida é feita p’ra amar!
M.G.
Que haverá em mim que me angustia
Que dor é esta que peito me oprime
no silêncio que voz balbucia
será dum monstro
De que crime?
O meu crime é sentir perdidamente
é arrastar a fonte d’emoção
em surdina a jorrar continuamente
a voz da minha mão
Para além de amor que se insinua
o sentir nada é só ilusão.
depressa nosso corpo esquece rima
de poema nascido em nossa mão.
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