Desastre
Há milhões e milhões de anos
os glaciares começaram
a liquefazer fazendo do branco
Era o tempo de mudança
o tempo da imprevisibilidade,
o tempo em que a morte era noite
e a vida na luz renascia diferente.
Os poetas ainda não tinham nascido,
mas a Terra gritava poemas na simbiose
biológica que das entranhas fervia,
desconhecendo que anos e anos depois
uns seres estranhos descoloridos
haveriam de ser ameaça ao azul
que então por entre rasgos de lava
jorrava o oxigénio que os alimentaria.
Agora que o Mundo parece ao contrário,
os artistas procuram remendos na arte,
os crentes oram de joelhos ao divino,
as mulheres temem e tremem pelos filhos,
os jovens emigram perdidos no onde,
os velhos contam histórias sábias antigas,
as crianças morrem ardendo no fogo inimigo,
os Poetas escrevem com sangue nos pulsos,
...os glaciares voltam a liquefazer...
....os vulcões acordam mais cedo...
....é tempo outra vez de fenómenos extremos.
Daqui a milhares de anos talvez centenas
não haverá ninguém para ler o que agora escrevo.
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