Chegou o calor. A Primavera vai adiantada. pássaros cantam nas árvores esquecidas da nudez invernal. Verdejante o solo, as alturas, no fundo azul do céu.
Mas dentro de mim a Primavera não chegou ainda.
Ou chegou o Verão sem poisar no nascer da folha.
Noutra paisagem, noutro céu. Dramático haver para o mesmo ser humano uma paisagem estival e outra para o Inverno... o inverno é isto aqui ao contrário de agora. o Verão é também isto aqui mas mais intenso mais autêntico, mais vibrante. E eu, perdida neste torvelinho de estranhas sensações vindas de paralelos estabelecidos entre dois sins, entre dois mundos que se sucedem, prolongam. A única vantagem que nós seres humanos podemos ter uns em relação aos outros é talvez a de compreender o que sentimos. Mas se isto que se sente por detrás do externo se chama angustia então por que não a dominamos se a reconhecemos? Que haverá para alem da similitude da paisagem ou do afastamento da recordação? O tempo de viver, até nos fundirmos nas estações. O tempo de viver! Nas transformações a que assistimos passivos. Mas como estar activos em acto a que a Natureza preside, que só ela cria, controla?
A criação, o perpetuar do efémero. Concretização do sonho, do vago, do abstracto.
Intervenientes na transformação destrutiva, somos por isso este mal-estar. Nao será porque esquecemos o todo natural a que pertencemos? E somos artificio. Vivemos nossas estacões interiores sem contraste, na monotonia dos que esqueceram o bem que faz chorar, como sabe bem rir.
Marília Gonçalves
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