Os mais destacados nomes do comércio, da aristocracia, das ciências e das artes, bem como muitos membros da colónia inglesa, aderiram à novel companhia, na qualidade de sócios.
A prestação do primeiro serviço verificou-se no dia 22. Tratou-se de uma situação de incêndio, num edifício situado na Travessa da Praia de Santos, onde o corpo activo, sob a orientação do comandante Guilherme Cossoul, que veio a ser distinguido pelo rei D. Luís I com o título de capitão-chefe dos bombeiros da freguesia dos Mártires, recorreu a material do município, em virtude da sua bomba braçal "Flaud" (bomba com chupadores para absorver a água de um manancial exterior, montada sobre veículo rodado, incluindo depósito, também conhecido por caldeira) não se encontrar completa para intervenção.
A referida bomba "Flaud", cuja aquisição partiu da iniciativa de um anónimo, ao industrial Cannel, pelo valor de 180$000 réis, resistiu até aos nossos dias, sendo pertença da Associação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme (ABVA) e encontrando-se em exposição no seu Museu. Foi adquirida à Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, em 1895, pelo valor de 200$000 réis.
O livro Cem Anos ao Serviço da Comunidade. 1895-1995, de Maria Teresa Caetano, evocativo do centenário da ABVA, discrimina as despesas efectuadas na reparação da bomba, a fim de esta se encontrar capacitada para entrar ao serviço:
Trabalho de reparação da bomba – 3$560 réis;
Aviamentos, tintas e solas – 2$720 réis;
65m de mangueira de lona – 26$000 réis;
Uma agulheta – 3$600 réis;
Cinco junções – 10$000 réis;
20 baldes de lona – 12$000 réis;
Um malote para os baldes – 3$000 réis.
Guilherme Cossoul faleceu em 26 de Novembro de 1880, certamente, sem nunca ter imaginado que o seu alvitre iria transformar-se num imparável fenómeno social – base organizativa do sistema de protecção e socorro em Portugal – o qual passados 140 anos se vê traduzido nos seguintes números, conforme avançado pela agência Lusa, em notícia recente sobre a realização do 40.º Congresso e os problemas com que se debatem as associações humanitárias de bombeiros voluntários:
Em Portugal existem 435 corporações de bombeiros, espalhadas por 307 dos 308 concelhos do país (Castro Marim, no Algarve, é a excepção), que têm 1,2 milhão de sócios, dispõem de um contingente que totaliza 38 mil elementos, entre voluntários e assalariados, geridos pelos sete mil dirigentes que ocupam os cargos directivos das organizações humanitárias, segundo a LBP.
Por absoluta necessidade de assegurar maior prontidão no socorro, em consequência do constante crescimento das solicitações, o voluntariado tem vindo a assistir à profissionalização de áreas de actividade dos corpos de bombeiros, caso do serviço de saúde, do serviço de emergência pré-hospitalar e, mais recentemente, do serviço de incêndios.
O ritmo da vida moderna implica que a capacidade de resposta, especialmente nos grandes centros urbanos e no período diurno, já não se compadeça, de modo exclusivo, com a disponibilidade do voluntariado, o que vem obrigando as estruturas dos bombeiros a adoptar soluções alternativas ao nível do seu sistema de funcionamento, de que é exemplo, em áreas de maior risco, a existência de grupos de intervenção permanente, co-financiados pela administração central e local. Este é, de resto, um dos assuntos que marca a actualidade e a agenda de trabalhos da reunião magna de Pombal, no quadro das propostas de cooperação a apresentar ao Governo, visando a melhoria da prestação de serviços e o adequado financiamento dos bombeiros no contexto da protecção civil.
Material dos BV Lisboa, frente ao quartel do Largo do Barão de Quintela (1885 e 1968)
A natureza dos problemas que afectavam, em 1968, as vulgarmente designadas "corporações", tinha uma dimensão diferente daqueles que se colocam nos dias de hoje, porém, a sensibilização de sucessivos governos para efeitos de apoio, quer antes quer depois da instauração do regime democrático, constitui um aspecto permanentemente presente em termos conjunturais e históricos, perseguindo, desde há décadas, a vivência dos bombeiros portugueses. Disso é exemplo uma passagem do artigo de abertura do Boletim da Liga dos Bombeiros Portugueses, referente a Novembro e Dezembro de 1968, que se reproduz:
Entretanto, e apesar de tudo quanto se passou, entendemos que muito ficou por fazer e que há necessidade de activar a acção deste organismo, para levar até ao Governo Central os anseios de todos e pugnar pela melhoria da situação que se impõe.
As nossas Associações não podem continuar a estar dependentes da generosidade do povo; o Estado tem de contribuir também para a sua manutenção e dado o agravamento no custo da vida há que encarar num futuro próximo a forma de se obterem dotações que permitam manter o que com muito sacrifício e dedicação se tem feito até agora.
Há que arranjar solução imediata para o problema gravíssimo do seguro das viaturas, cujo arranjo não pode ser suportado pelas Corporações de Bombeiros, por para isso não darem as suas receitas, sempre escassas.
Comissão Executiva do XVIII Congresso (Da esquerda para a direita: Jaime Alves Baptista, João Magalhães Ferraz, António de Moura e Silva, almirante Nuno de Brion, dr. Manuel Pinto Gomes de Carvalho, comandante Ernesto Costa e Alberto Serra e Moura). Pessoal do Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa equipado com fatos de aproximação ao fogo, no desfile de encerramento do XVIII Congresso, na Avenida da Liberdade
Fonte: fogo-historia
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