A Canção «Grândola Vila Morena», escrita e cantada por José Afonso, foi a senha para que o Movimento das Forças Armadas avançasse para a revolução dos cravos na madrugada de 25 de Abril de 1974.
Grândola, Vila Morena
1.
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
2.
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
3.
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
4.
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
5.
À sombra d’uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
6.
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
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Cravos de Abril
Vermelha flor
Pétalas mil
De rubra cor.
Abril florido
Cravos de Junho
Entrando em Maio
Esperança em punho.
Cravos de Abril
Na história acesa
No céu de anil
Nasce a certeza
Da Liberdade
Pura e fraterna
Sem a maldade
De quem governa.
Abril em flor
Abril de risos
Semeia amor
Gestos precisos
A Pátria avança
Devagarinho
Ave ou criança
Deixando o ninho.
Alvoreceram no dia novo
Novas sementes
Para o rei-povo.
Marília Gonçalves
A casa de meus pais perdida há tanto
de risos e luar
de sol ardente
onde poisava meu olhar
contente
meu inocente olhar
alheio ao mal
que vem do sofrimento
meu terno e doce olhar
onde se via
sentir e pensamento...
Caíram noites sobre meu olhar
não noites como noites conhecidas
terríveis noites, noites sem sonhar
de monstros e de feras escondidas
noite sombria, noite de ameaça
onde todo o futuro se extinguia
Ó Noite do Terror que nunca passa
onde o nascer do dia não surgia
Foi uma longa noite repartida
por tudo o que é sensível e verdade
foi horrífica noite repetida
que gela o tempo e todo o espaço invade
uma noite de séculos, milénios
que ali em meio século se vivia
que abocanhava a arte, alunos, génios
noite que cada dia renascia
que cegava a palavra
ardia livros
tentava prender o pensamento
essa tremenda noite de agonia
quando até o tempo era cinzento.
Mas nas dobras noite havia quem
alheio à realidade se escondia
e não via o pranto de ninguém
nem a terra e o luto que a cobria
foram tantos e tais esses vexames
tantas e tais afrontas se sofria
da negação da dor e sofrimento
que em cada Humano os astros implodiam
de ondulantes trigais à fome ao vento
e que em flâmulas a noite convertiam
caía aqui e ali um nosso irmão
como um sol se desfaz no horizonte
à espera da partícula de pão
que se reparta a rir de monte em monte.
Por isso se ouvia opresso grito
brado puro que canta a Liberdade
num alerta que enchia o infinito
num ideal de Paz e igualdade
Marília Gonçalves
25 de Abril Sempre
Espasmo interior
ou revolta fulminante
qual o nome para a dor
vinda do meu tempo infante?
algozes vis destruíram
em feroz atrocidade
os sorrisos que fugiram
ao futuro da verdade.
Antecedendo o dia luminoso
eles mataram feriram sem remorso
da tortura fazendo íntimo gozo
curvando ao povo as almas e o dorso.
Mas a alma do povo é resistente!
De humilhações de feridas de peçonha
que lhes fechavam as portas do presente
em crueldade bárbara medonha:
Ânimo erguido! Na luta na arena
na solidão feroz de cada cela
desprezando o sarcasmo da hiena
caindo em bando sobre uma gazela
o povo foi erguendo em cada não
a história portuguesa do futuro:
fez luz nascer da escuridão!
Um jardim nascia no monturo.
Marília Gonçalves
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