Meio Século
No tempo em que os cavalos
tinham patas de vento
o voo ultrapassava a dor
e as raízes
quando sonhos azuis
não podiam montá-los
a desenhar o sulco
de térreas cicatrizes.
No tempo em que os cavalos
não escolhiam caminho
levantavam as crianças
do solo atraiçoado
no tempo dos cavalos
e das imperatrizes, as leis,
eram sombra de quem ia montado.
No tempo em que os cavalos
desenharam memória
da cor da sua cinza
sobre a cinza dos dias
no tempo em que o terror
era vê-los, olhá-los
como vento a passar sobre histórias vazias.
No tempo em que os cavalos
numa cidade inquieta
galopavam no tempo
que não queria parar
uma mancha de sangue
desenhava-se preta
nos dias ressequidos
a perder-se no mar.
No tempo em que os cavalos
eram maiores que a estrada
havia vozes cegas
ou olhos por gritar…
no tempo em que eram monstros
que vinham dispará-los
sobre a esperança nascida
que não queria murchar…
No tempo dos cavalos
no tempo dos cavalos
na Pátria ia crescendo
a raiva popular.
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