DESPERTAR DO 25 ABRIL DE 1974
Naquela manhã idêntica a tantas outras, meu irmão saía de casa para ir para o Liceu. Despediu-se do pai que nesse momento começara a barbear-se. Deve como de costume ter-se despedido da avó e da mãe e começou a descer as escadas do 3° andar que o separavam da rua. Precisamente no momento em que agarrou a maçaneta da porta da rua, parou surpreendido e assustado. Um grito indescritível ecoava pelas escadas, batia contra as paredes com tal força que de imediato percebeu tratar-se de grito do pai!
Subiu as escadas de quatro em quatro, a uma velocidade a que o medo obrigava (nosso pai era muito doente e por vezes havia cenas semelhantes em casa que não anunciavam nada de bom e que acabavam muitas vezes na ida de nosso pai para o hospital).
A porta de casa abriu-se ao seu chamamento. Qual não é o espanto quando depara com um pai que exultava de alegria explosiva e comunicativa!
Ora o que se tinha passado era o seguinte: enquanto fazia a barba, meu pai de transístor aceso ouviu a transmissão da notícia de que em Portugal estava a dar-se um golpe de estado. Para quem sempre acreditara na possibilidade da queda do regime salazar/caetano, nunca lhe passou pela cabeça que o golpe viesse ainda de forças mais reacionárias, Para ele era límpido! O Golpe era de esquerda e era para libertar Portugal e seu povo. Para quem na altura se encontrava exilado desde 1962, era o concretizar do sonho, da espera de cada dia
E foi uma ronda de alegria infinda que encheu a casa
A mãe, eufórica até mais não, precipitou-se para o quiosque mais próximo onde foi comprando todos os jornais que surgiam; procurando notícias mais aprofundadas.
Eu em Faro, infelizmente, como meus pais não tinham telefone (nem todos os exilados políticos tiveram exílios dourados, como foi o caso de uns quantos) não podia comunicar com eles e partilhar assim o que apesar de pouco íamos obtendo de notícias vindas de Lisboa!
A minha avó materna, que já vira muito e muitas vezes se decepcionara com anúncios logrados da queda do regime, mantinha-se num estado de fleuma, aguardando confirmação e concretização do acontecido
Mas foram dias de exuberância e excitação, de preparativos para a vinda de meu pai a Portugal, que as dificuldades agravadas pela sua doença complicavam e assim so a 4 de Maio o recebemos em Lisboa onde chegou de camioneta. Família e amigos ostentavam cravos vermelhos e eu tinha uma espécie de xaile vermelho pelas costas que cruzava sobre o coração
Assim que as aulas acabaram chegou a família toda e foi o Verão de 1974 o reencontrar de uma vida repartida por todos e partilhada por amigos e povo que começava a colher as primeiras conquistas de Abril, que dia após dia se concretizavam!
Num país em que os Militares eram o nosso orgulho e que passavam a fazer parte da grande família portuguesa
Por toda essa inesquecível alegria, pela fraternidade, pelo nosso olhar límpido e seguro e por quanto de bom e humano Abril nos trouxe VIVA O 25 DE ABRIL DE 1974 PARA TODO O SEMPRE
e VIVA A VIDA que o 25 de Abril compensou de quanta agrura possamos ter vivido anteriormente
Marília Gonçalves
(nota- enquanto escrevi este breve texto, todos os que partiram e que choro, meu pai, minha avó minha tia ( a viúva de Alex, Alfredo Dinis, o meu avô preso 24 vezes que resistiu ao Tarrafal e tantos outros, estiveram aqui, presentes e vivos, tão vivos como o estavam no 25 de Abril de 1974, uma profunda alegria me acompanhou durante estes momentos de escrita!)
Olga Maria Mendes
Minha
amiga, o 25 de Abril, em minha casa/ família próxima também foi de
alegria e confiança num Portugal redescoberto com mais justiça e mais
paz... Eu tinha 17 anos, fiz 18 anos no mês de junho seguinte.
Li o teu texto muito emocionada pela admiração que
tenho por quantos e quantas sofreram o fascismo diretamente sem vacilar
como aconteceu com a tua família ( podemos tratar-nos por "tu"?).
Nāo
nos conhecemos pessoalmente, mas pelo que leio, pelo que sinto há
amigos e amigas virtuais que parece que já conheço há muito tempo.
Um grande abraço.
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Silvina Fonseca Anadio Queiroz
Marilia Gonçalves Pimenta Gonçalves gostei muito do teu texto. Eu estava na universidade e corri de casa até lá, feita maluca! Um dia inesquecível!
Maria Helena Silva
Linda
descrição do que foi o 25 Abril numa família portuguesa. Acho que posso
dizer sem errar que na grande maioria das famílias esse dia foi dia de
alegria. Tantos sonhos ...... que faltam realizar
Sim,
vi dentro das grades da prisão da cadeia do Forte de Caxias, a partir
daa 7:00 h, porque me encontrava no último piso em cela de isolamento o
despertar de um dia Novo a da Liberdade no dia 26 de Abril onde
progressivamente afliam às imediações da cadeia
milhares de Portugueses a exigirem a nossa libertação... sim, olhei e vi
os Fuzileiros do MFA a guardar a cadeia tendo substituido a GNR, alguns
já com o cravo na G3... a libertação só foi conseguida por pressão do
MFA e do Povo Português contra as intenções de Spínola que só queria que
alguns presos no País fossem libertados.... finalmente em Caxias os
portões da prisão se abriam às 0:00 h e em Peniche às 0:01 horas do dia
27 de Abril. Fascismo Nunca Mais! 25 Abril Sempre! A Luta Contínua nas
Ruas no dia 25 de Fevereiro da CGTP.Maria Helena Silva
Eugénio Ruivo conheço bem a entrada e a sala das visitas, andei para lá a caminhar de 1962 a 1965 para ver o meu pai
Eugénio Ruivo
Maria Helena Silva
como se chama o seu pai? Esse período corresponde a uma imensa vaga de
prisões de antifascistas que lutando pela Liberdade, davam a sua vida
como os que estavam na clandestinidade em qq uma das trincheiras de
combate. Não podemos baixar a guarda. Muitas
saudações e quão foi bonito o seu escrito de Liberdade. Fascismo Nunca
Mais! 25 Abril Sempre!A Luta Contínua!
Orlando Adrião
Lindo texto amiga! Abril sempre.
Filomena Santos
Vinte e cinco de abril sempre fascismo nunca mais
Manuela Galhofo
Um grande xi

Carmo Vicente
25 de Abril Sempre!
Catarina Aires
25 de Abril Sempre!
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