A inominável memória de um amor
A inominável memória de um amor
que eclodiu do alto da cidade velha
quando as ruas eram povoadas de sonhos
e desceu de mãos dadas e beijos
espreguiçando-se nas margens do rio
que lânguido passeava entre choupos.
Um amor de livros partilhados nas sombras,
da noite onde apenas as estrelas brilhavam,
de utopia escrita nas horas permanentes,
das paredes onde se escrevia a revolta,
dos abraços como se fossem despedidas.
A inominável memória de um amor
adiado, sempre adiado nos dias clandestinos,
uma paixão que ficava na mudez das palavras,
escondida por trás de um stencil perfurado
de uma luta maior onde amar era interdito
e todavia amei-te em segredo todos os dias.
Era a cidade inteira numa praça aberta,
numas escadas que à pressa se desciam,
era uma menina feita mulher no teu corpo,
era um vestido de chita anunciando cravos,
uns olhos azuis onde navegavam os sonhos.
A inominável memória de um amor,
incompleto na saudade que se perdeu,
na solidão que foi travessia do deserto,
na lonjura translúcida do tempo ido,
restando esta mágoa que ainda dói,
este desejo vazio de impossível regresso.
Teresa Veludo
O Meu Rio sem Margens
(Direitos reservados)
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