o néctar dos dias
A poesia fazia circular no meu profundo o néctar dos dias
O meu olhar interior divagava delineando penumbra e sombra
Num estranho contraste liquefeito
De que só as pestanas testemunhavam
As mãos habituadas ao voo colhiam palavras
A rodopiar no meu sentir
Estranha voz vegetal, saída das árvores
Ecoava estranhamente na minha aquática voz
Estranha sinfonia levantava do solo
Centelhas de luz
Que em semente
Se propagava em cânticos do silêncio.
Amarga e doce
Erguia-se o fruto colhido nas alturas
Da idealidade permitida.
Transfiguração da vaga
Que ondulante procurava na areia
Resposta a cada pergunta entorpecida
A força fragilizada do presente
Transfigurava as pétalas voadoras
Que alguns teimavam em chamar
Mariposas do instante
Abriam avenidas nas nuvens que de cinza tinham cor
Até ao momento de brio e brilho
Cor de luz
As perguntas encontravam sua resposta
Desfaziam-se em mais perguntas ainda.
Ervas de imaginários prados
Frutificavam em lábios transparentes
Onde a palavra surgia.
Devaneio claro da hora
Emudecia o fruto do labor
Brotavam asas em cada flor perdida.
Silêncio de cardos
Dor esmaecida
Cristal tremeluzente
Boca amarga duma história que nunca foi
Estranho bailado
Falava de partículas de som
E silenciavam após.
A água fecundava o ar
De cor por definir.
Vozes soavam caladas e cansadas
De não ser
Os dedos voz do gesto
Traçavam espaços brancos
Chovia luz
Obscurecida
De ter perdido a raiz da sombra
O movimento circular seguia por invisível estrada
Poesia na hora
Por chegar
Da inventada pena
Burilava cânticos por nascer.
Melopeia da noite
Soturna voz
Que ao dealbar
Sorria.
Fonte da ênfase
Rodopiava sons
Por desnudar
Prodígio da fala
Que procura mãos
Onde ter voz
A pertinácia insaciável
Invento de poema nunca escrito
Poisava a fulgurar
Na mão que não sabia.
Sem comentários:
Enviar um comentário