Novas canções
I
Os pássaros cantam
o galo da vizinha é ensurdecedor,
as discotecas já fecharam as portas,
os homens do lixo limparam a cidade,
os jacarandás abrem-se em lilás,
as damas da noite já não exalam odor.
Aprendi a linguagem dos pássaros
nas madrugadas solitárias de luz,
sei como aquecem a voz no silêncio,
sinfonias em árvores de jardins vazios,
melros, chapins, carriças a até andorinhas,
sopranos matinais rasgando os azuis.
Os pássaros cantam
meia hora antes do nascer do sol
e eu dobro as insónias no linho dos lençóis
escutando cânticos flauteados primaveris.
II
E nesta saudade violácea
rio que não conhece a noite,
turbilhão que agita o negrume,
horas lentas nos passos da solidão,
frestas de luz que são sofreguidão,
trôpegas memórias que o dia apazigua,
amores, desamores, eternas paixões
arrumadas em velhas prateleiras,
guardadas na poeira translúcida,
uma flor vermelha caída de um livro,
uma fotografia rasgada ao meio.
Os pássaros cantam
meia hora antes do nascer do sol,
novas melodias afagam o desassossego,
novas canções que a custo trauteio.
Teresa Veludo
Livro Abraça-me em Maio
Sem comentários:
Enviar um comentário