A mulher confinada
Confinou-se
Na sua confinação
Todo o passado que trouxe
De quando não tinha não
Se avolumava crescia
Dentro duma opinião
Que no íntimo envolvia
Desde tripa ao coração
Mas a mulher não sabia
Que ia parir novo não
E o dia que nascia
Crescia na sua mão.
Mãe mão na fome de tantos
Mão que semeou o pão
Amassado por seus prantos
Orvalho seco no chão
Desde a voz duma ceifeira
Levando um filho pela mão
E que bala traiçoeira
Amandou inerte ao chão
Um murmúrio longo e lento
Percorreu a planura
Como arrepio que despisse
A sombra da noite escura
Esse murmúrio sentido
Atravessava milénios
Com a força dum gemido
Ou voz calada de génios
Do sangue duma ceifeira
Um sangue internacional
Nascia a nova bandeira
Opondo o bem contra o mal
O bem, sim, porque não dói
Não mata nem faz sofrer
Enquanto o que é mau corrói
E não nos deixa viver
Usemos pois a palavra
Com o sentido que tem
Sobre terra que se lavra
Só porque o sabemos bem.
Quando o gosto é sem desgosto
E nunca provoca dor
Radioso sol de Agosto
gargalhada sem amor
Que ser mulher é mais forte
Que malévola intenção
Que vence a sombra da morte
Ao grito de sua mão.
Marilia Gonçalves
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