Amiga Adeus
Efémero
Como castelo na areia
é a vida em construção
logo vem a maré cheia
e tudo leva na mão
nada de quanto tivemos
é promessa e é futuro
cada trago que sorvemos
de sol de alento de ar puro
é pelos dias vindouros
sempre em nós ameaçado
esvaem-se n'água os tesouros
de nosso rir descuidado
e cai assim a conquista
tudo se desmente enfim
ao esvair-se em nossa vista
a nau de velas de brim
e no acaso do vento
no decorrer da maré
fica em nosso pensamento
o que foi e que não é
Marília Gonçalves
Para a Minha Querida Amiga
Maria do Carmo
que nos deixou para sempre
saudade e gratidão
Marília
à Elsa, em Memória de tua Mãe
um poema de Natália Correia
Nessa manhã as garças não voaram
E dos confins da luz um deus chamou.
Docemente teus cílios se fecharam
Sobre o olhar onde tudo começou.
A terra uivou. Todas as cores mudaram
O mar emudeceu. O ar parou.
Escuros véus de pranto o sol taparam
De azáleas lívidas a ilha se cercou.
A que pélago o esquife te levava?
Não ao termo. A não chorar os mortos.
Teu sumo espiritual florido ensina.
E se o mundo em ti principiava,
No teu mistério entre astros absortos,
Suavemente, ó mãe, tudo termina.
Natália Correia
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