Aos que calando consentiram
Dizer medo
é muito pouco
murmura
num tom rouco.
Dizer medo
é quase nada
quando o mutismo
emprenhou
o ventre da madrugada.
dizer medo
é o início
muda justificação
da verdade narrativa
de quem traiu o seu chão.
Dizer medo
cobardia!
a tentar suavizar
a medida do mutismo
no tempo a não querer passar.
Cobardia! Cobardia!
Ante o olhar inocente
olhar que morto caía
por querer inventar o tempo
no olhar que dividia
pelo pão de tanta gente!
Homem que em frente seguia
mesmo se isoladamente.
Medo é pouco
mesmo nada
quando a hora é de unidade!
mas se deixa a solidão
tragar a força a vontade.
Medo é pouco
não convence
nem os mortos nem os vivos!
Só silêncio cobardia
deixaram fazer cativos
quem quis repartir o dia
com os próprios inactivos.
Cativos num país louco
a disfarçar em bondade
os hipócritas passivos
ao ver morta a Liberdade.
Cobardia disfarçada
em meio século de história
num país de mortos vivos
afugentando a memória.
dos direitos colectivos.
As prisões foram sofrendo
o grito dos lutadores
assassinatos enchendo
Portugal, de luto, dores.
Mas cada grito abafado
nas paredes da prisão
era um apito estridente
sobre a nossa negação.
Por isso há mortos mais vivos
que muitos muitos de vós
da história sereis cativos.
Dos mortos será a voz.
Porque desde o primeiro dia,
em que o fascismo venceu
por dentro dele crescia
o mês de Abril que o venceu.
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