Anoiteceu
Anoiteceu.
dentro de mim avolumam-se sombras, desvanecem-se contornos esbatidos no
dédalo por desvendar. nas arestas apagadas que asperidade, que tormento
oculto foge à interpretação da luz? Por dentro olho-me numa cintilação
de memória, cujo cristal se aproxima e afasta simultaneamente.
A cor fascina-me pelo que aprendi dela. Há muito sei, haver no irisado tonalidade de sorriso de chuva.
Embrenho-me no desconhecido, aprofundo a floresta que apenas a minha passagem desvirtua. Tentativa suprema
de sondar a treva, agito a mão, esperando gesto mágico ou som de estrada a desbravar. Uma ribeira interior circula-
-me nos passos, aproximar-me da fonte. Manancial transparente oculta vida estranha na pedra que se afunda.
Surgem
brancas aves na encruzilhada de argila. Rastejam-me aos pés formas
desconhecidas. nos meus olhos aumentam as tempestades do pressentimento.
Alquimia invencível, os elementos transformam-se, transtornam-me até ao todo humano em que me reconheço.
Para além de mim, da luz, da sombra, matéria informe, modelada pela natureza a devolver-nos à nossa humanidade.
Marília Gonçalves
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