És Portugal e matas-me de fome
não dessa fome que matou Camões
Mas interior, que me consome e come
Como câncer de minhas emoções.
Cantam em mim lembranças da infância
Cravos na minha dor
Flores na distância
Da primavera que Abril amanheceu.
Grito por ti e nunca me respondes
Desde menina semeei em ti
Esse sol que de mim escondes
E que só em ti vivi.
Portugal, esquecido de quem teve
Teu nome por bandeira, por batalha
E foi percorrendo a vida inteira
No abraço feroz de vã mortalha.
Esqueceste quem te amou, os que te deram
Sobre a renúncia de suas vidas
A luz da alegria que perderam
Em nome das estrelas perseguidas.
Tanto ser vil, em ti encontra abrigo
Mercenários sem lei e sem moral
Enquanto vais tratando em inimigo
Os que cantaram na noite, Portugal,
Tantos partiram, só, me vou quedando
A trepar a custo esta ladeira
Entretanto, a dor vai fermentando
Sobre o sepulcro da minha vida inteira.
A humana paisagem que meu pai
Pintou nesse painel que foste um dia
Meu velho Portugal, morreu com ele
Longe da pátria, para quem vivia.
E nunca vi em ti íntimo pranto
Nem grito de revolta te abalou
Enquanto em mim entrava o desencanto
Que com gélidos dedos me agarrou.
O clamor é vão e não respondes
Só minha mágoa segue indefinida
E a luz dessa respostas que me escondes
Vai consumindo toda a minha vida
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